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A criança católica e o espírito de sacrifício

Irmãs da Fraternidade São Pio X

 

Os caçadores da África costumavam empregar a astúcia para capturar os macacos: penduravam nos ramos umas bolsas pequenas de couro cheias de arroz, cuja abertura costuravam com um cordão, de modo que somente pudesse passar por ali a mão do macaco. Atraído pela comida, o animal colocava a mão na bolsa... e não podia tirá-la mais. Bastaria que deixasse o punhado de arroz... mas o macaco não quer fazer isso de jeito nenhum, e sua teimosia lhe custava a liberdade e a vida.

Queridas mães, já aconteceu comigo, e com certeza também aconteceu com as senhoras, de ver a reação daqueles macacos... nas nossas crianças. O desejo de doces e balas, da boneca recém-lançada ou do último modelo de carro, os atrativos ainda mais fortes à preguiça (não fazer nada ou deixar que a mãe faça tudo) ou da independência (“eu faço o que eu quero”) levam a gritos de raiva, iguais aos do macaco capturado pela mão na bolsa, se alguém desgraçadamente quiser contrariar os seus planos de conquista! (continue a ler)

Essa comprovação, no entanto, não é de hoje. Escutemos a Pio XII, que dizia em 1940: “Olhem... a essas crianças... que uma ternura cega cria no amor desenfreado da comodidade ou das frivolidades, no esquecimento prático – para não dizer o desprezo – das grandes leis morais: o dever da oração, a necessidade do sacrifício e da vitória sobre as paixões, as obrigações essenciais da justiça e da caridade ao próximo”. E acrescentava depois: “Esposos católicos, pensem cedo nos seus deveres de educadores”.

Queridas mães, para educar os seus filhos é necessário colocar alicerces firmes, como para construir torres altas: esse alicerce é o espírito de sacrifício. 

Espírito de sacrifício! Estas são palavras que assustam! Embora a sua flor tenha uma beleza áspera, no entanto, difunde um aroma celeste... Nosso Senhor Jesus Cristo, de fato, não quis outra coisa para si, durante sua vida terrena. Até mesmo agora, quando Ele vem descansar nas nossas almas, Ele o faz por meio do Sacrifício... do altar!

Sacrifício é fazer algo sagrado, segundo a palavra latina. Edificar em seus filhos um santuário tranquilo, em que as paixões estejam ordenadas, em que a vontade encontre o seu Divino Mestre e o obedeça com alegria...

Como os srs. conseguirão fazer de seus filhos um santuário assim? Como conseguirão desenvolver neles o espírito de sacrifício? Antes de tudo, o que significa a palavra “sacrifício”? Não consiste em acumular uma quantidade impressionante de atos difíceis e penosos; não se trata de imitar as penitências do Santo Cura d’Ars ou de São João Batista. Eles receberam uma missão particular que não coube a nós.

Também não consiste em passar os nossos dias fazendo o contrário do que gostaríamos, nem obrigar as crianças a não viverem como crianças.

O espírito de sacrifício é preferir, com alegria e por amor a Jesus, o que lhe agrada antes do que aquilo que eu quero. Trata-se também de receber todos os pequenos acontecimentos desagradáveis com um sorriso: “Essa dor de cabeça, essa nota que não se mereceu, esse passeio cancelado na última hora... se Jesus quer que seja assim, eu também quero”.

Também se trata de fazer um ato de renúncia de si mesmo todos os dias, um ato de abnegação. Na palavra “abnegação” se encontra a palavra “negação”: dizer “não”.

Pelo menos uma vez por dia temos que dizer “não” a nós mesmos: durante as refeições, quando nos dá vontade de fazer algo (correr, falar, irritar-se), durante os jogos, nas aulas... Abster-se de uma palavra não muito amável, manter-se direito na sua cadeira, saber perder nos jogos com bom humor, ser prestativo, emprestar as coisas próprias, cumprimentar e despedir-se das pessoas com urbanidade... São formas de praticar a abnegação: dizer “não” ao pequeno macaco que dorme dentro de cada um dos nossos filhos. 

Estes são pequenos atos de amor que arrebatam o coração de Deus e semeiam a alegria na criança que os pratica, tal como experimentou uma santa menina, Ana de Guigné, que escreveu: “Temos muitas alegrias na terra, mas não duram; a que permanece é ter feito um sacrifício”.

Comecem desde o começo da infância: por exemplo, ensinem-lhe a não pedir comida fora de hora, não cedam aos seus pequenos caprichos e raivas. Cedo, aos três ou quatro anos, mostrem-lhe que Jesus se alegra com seus pequenos esforços e boas obras, sugiram-lhe alguns sacrifícios... Saibam estimular sua generosidade e, às vezes, recompensem os seus grandes esforços. Tudo isso fortalecerá pouco a pouco a vontade e lhe ensinará a aceitar todas as coisas de boa vontade.

Desta maneira, farão de seu filho um bom católico disposto a enfrentar-se com a vida, as dificuldades e os perigos, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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