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Novos Tempos

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Em comemoração dos 50 anos de Permanência,

 propomos a leitura do editorial de relançamento da nossa revista.

 

Dom Lourenço Fleichman OSB

Em 1991 propus ao meu pai, Julio Fleichman, o relançamento da Revista Permanência, cuja publicação fora interrompida em 1990, poucos meses antes, por falta de interesse dos assinantes. De fato, ao longo dos anos, faleceram os antigos alunos e leitores de Gustavo Corção, que sempre manifestaram seu apoio e mesmo seu entusiasmo com o trabalho de defesa da fé católica empreendido em 1968 e sustentado, desde então, de modo heróico.

Meu pai recusou minha proposta, alegando estar cansado de tanto insistir, sem sucesso, para que os leitores pagassem suas assinaturas. Ao mesmo tempo, o Sr. Otero, de Santa Maria, começara seu apostolado pela missa tridentina naquela cidade, construindo a Igreja do Imaculado Coração de Maria, que viria a ser o atual Priorado da Fraternidade São Pio X. Com isso ficava mais difícil para esse grande benfeitor continuar assegurando o custo de impressão dos mil exemplares da Revista. (Clique para continuar a ler)

Dediquei-me, então, à edição de livros. Verdadeiramente heróicos foram esses tempos. Conseguimos comprar um computador – na época considerado de bom desempenho – um Itautec Xt, com um “enorme” disco rígido de 30Kb. Era no ancestral imediato do 286, que veio a ser o pai do 386. O editor de texto chamava-se Redator, vindo mais tarde o Wordstar, tudo isso rodando em DOS. Naqueles anos não havia impressora, com preço razoável, que não fosse matricial. Não era possível fazer livros com as letras pontilhadas desse tipo de impressão. Compramos então uma máquina de escrever Olivetti, com impressão de margarida, onde era acoplada uma placa que a ligava ao computador. Cada página do livro era impressa com boa qualidade, apesar de ser “de imprensa” o tipo da letra. Em seguida, essas páginas eram coladas, com ajuda de uma mesa de luz, formando as matrizes paginadas corretamente. As matrizes eram então fotocopiadas, com bom resultado, numa pequena copiadora Mita. Vinha em seguida o trabalho de alcear os cadernos, dobrá-los, costurá-los e colar as capas. O refilamento era feito numa pequena guilhotina que conseguimos também comprar. 

Esse imenso trabalho era feito em família. Passávamos o início da noite, após o jantar, dobrando, costurando, colando... Nossos leitores talvez ainda se lembrem de volumes como Do Liberalismo à Apostasia, ou As Descontinuidades da Criação, ou ainda as primeiras edições do Pe. Emmanuel e da Bula de São Pio V. A difusão era feita por meio de prospectos incrivelmente artesanais, montados na mesa de luz, com letras garrafais recortadas de revistas, anunciando os lançamentos. Este papel era enviado aos antigos assinantes da Revista Permanência. Datam de então as cartas tocantes de antigos leitores, emocionados ao saberem que a Permanência permanecera.

Pouco depois surgiram as impressoras a laser mais baratas, e a nossa produção melhorou um pouco na qualidade. No final da década de 90, foi iniciado o trabalho na Internet, que nossos leitores já conhecem: www.permanencia.org.br e www.editorapermanencia.com.

Da Capela São Miguel e da Capela Nossa Senhora da Conceição surgiram novos colaboradores, alguns poucos rapazes que me ajudam no site e outros poucos que trabalham nas traduções: Alexandre Bastos, Maria Goretti, André Luiz, Toni Rhoden, Luiz de Carvalho, Antonio Haroldo, Leonardo, Fabiano Lyrio. Dona Cândida e Imaculada se dedicam ao trabalho de revisão. Eles todos queriam relançar a Revista Permanência, mas esbarravam na minha recusa, pelo fato do site já exercer, de certa forma, o papel da Revista. Foi o desenvolvimento recente das gráficas e a evidente decadência da internet que me abriram a possibilidade do retorno da Revista, que hoje vimos apresentar.

Quarenta e quatro anos após o lançamento da Revista Permanência, e vinte e dois anos após seu encerramento, voltamos a editá-la. Curiosamente, o tempo ficou dividido de forma simétrica: vinte e dois anos editando a Revista, seguidos de vinte e dois anos sem ela. Agora serão quatro números por ano, designados pelo Tempo Litúrgico: Tempo do Natal, Tempo da Quaresma, Tempo da Páscoa e Tempo depois de Pentecostes. No início, os exemplares serão vendidos avulsos em nossa loja virtual.  Mais tarde, dependendo da reação dos nossos leitores, poderemos voltar a oferecer assinaturas anuais.

Dentro da Revista, nossos leitores encontrarão artigos de temas diversos, porém sempre focados na defesa da fé católica, do pensamento profundo, da formação de uma civilização calcada nos Evangelhos e na vida da Igreja. Como sempre aconteceu em nosso meio, não seguimos a ninguém, senão a Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele, sendo a Verdade Eterna, é nossa Luz e nosso Caminho. Por causa Dele, guardamos a fé, a proclamamos, e pretendemos, com a Sua graça, guardar um mínimo de bom senso na análise dos erros modernos, da nova religião de Vaticano II e dessa civilização que se levanta como uma besta monstruosa diante de todos. Queremos, assim, continuar a alertar nossos leitores sobre os necessários posicionamentos doutrinários e morais que nos são hoje exigidos por Deus. 

Os tempos são outros. Sentimos um vazio imenso em torno de nós. Onde foram parar aqueles grandes homens que acompanharam Gustavo Corção nos dias em que o céu se escureceu sobre a Igreja e a fé basculou na beira do precipício? Acordem, senhores! saiam dos seus túmulos, como saíram os santos no dia da Crucifixão. Passeiem pelas cidades, como eles passearam, e confirmem na fé esses pobres combatentes do final dos tempos. Que venham Carlos de Laet e Jackson de Figueiredo, representando os católicos antigos; que se apressem Dom Vital, Dom Macedo Costa, Dom Viçoso, Mgr. Brasil e tantos outros desse clero brasileiro, ignorados de todos, mas valorosos e santos; acordem, Gerardo Dantas Barreto, Fábio Alves Ribeiro, Fernando Carneiro, Alfredo Lage, velhos companheiros de Gustavo Corção, no Centro Dom Vital; e estejam espiritualmente conosco nessa hora, nossos fundadores e amigos, Gustavo Corção, Julio Fleichman, Sileno Ferreira da Costa, Helena Rodrigues, Hélio Drago Romano, Marta Soares dos Santos,  Antônio Hernandez e aqueles mais que nos ajudaram a um dia, nesse dia, termos a coragem de recomeçar esse trabalho, meio louco, meio perdido, de publicar novamente a Revista Permanência. Na bela imagem de Chesterton, é com os olhos voltados para o passado, onde encontramos o exemplo, o modelo e a firmeza, que caminhamos para o futuro, animados de um entusiasmo novo, uma nova vida que floresce debaixo das folhas mortas, na umidade da floresta, como humilde violeta. Porque a sementinha não morreu, e a Revista Permanência vive.

*

Resta-nos ainda explicar alguma coisa sobre a situação atual da formação católica no Brasil. Nossa Revista Permanência se insere justamente nesse ambiente, e pretende cumprir aquele papel que foi outrora o seu: levar a todos os cantos da nossa Pátria a doutrina segura dos santos, dos papas, dos doutores e pensadores ortodoxos.

Nesse ponto existe uma diferença muito grande entre 1968 – quando foi fundada a Permanência e lançada a Revista – e 2012, quando o combate pela fé no Brasil já conta com a presença dos Priorados da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, além de outros padres ligados a ela, tais como o Pe. Jahir Britto de Souza, da Familia Beatae Mariae Virginis, próximo a Salvador (BA), e o padre Fernando da Conceição Lopes, em Anápolis (GO). Nosso combate na Permanência também mudou, após a morte de Gustavo Corção. Perdemos a difusão dos seus artigos nos principais jornais do país, mas conseguimos um Altar, com construção da Capela São Miguel, onde a Santa Missa tridentina passou a ser celebrada sem os transtornos dos anos 70. Houve um recuo para a moderna catacumba, mas crescemos espiritualmente. Os frutos desse crescimento amadureceram: do altar de São Miguel, fundamos a Capela N. Sra da Conceição, com sua bela igreja, em Niterói, e a Capela N.Sra da Assunção, em Fortaleza (CE). As vocações também surgiram, sendo nove padres ordenados e uma religiosa dominicana. 

Cresce cada dia mais o número de católicos desejosos de voltar à Tradição, cansados da balbúrdia e das heresias dos padres modernos. Mesmo quando não encontram a Santa Missa em suas cidades, podem viajar, pelo menos em algumas épocas do ano, para ir até onde se celebre a Missa. De um modo geral, a missa verdadeira tornou-se acessível a um grande número de fiéis. A Fraternidade São Pio X, além disso, promove ao longo do ano diversas atividades, como Retiros de Santo Inácio, Peregrinação a Aparecida, ou a Jornada de Formação, do MJCB. As vocações brasileiras crescem e já temos mais de dez seminaristas no Seminário da Argentina. Tudo isso mostra que a Tradição no Brasil, finalmente, voltou a crescer.

Porém, juntamente com essa facilidade e com o maior conhecimento que as pessoas conseguem ter da Tradição, o liberalismo moderno trouxe para dentro da sociedade novas tendências e comportamentos. O mundo da opinião tomou conta de tudo e de todos, de modo que por toda parte vemos surgir grupos reunidos em sites ou em blogs, em nome da Tradição. Muitas vezes declaram-se fiéis à Fraternidade São Pio X, usam o nome de Dom Lefebvre e de Dom Antônio de Castro Mayer, porém seguem a si mesmos, imbuídos de orgulho e vaidades, querendo não apenas dizer o que pensam sobre os assuntos da Igreja, mas também julgando a todos, e fazendo prognósticos precipitados sobre o futuro. Alguns tomam o caminho da esquerda, e ficam presos a uma falsa obediência que já não tem a fé como fundamento. Outros caem para a direita, e são tão duros e soberbos; declaram a sede de Roma vacante, tornando-se juízes de si mesmos e, pior, juízes da Santa Igreja. Só a Fraternidade insiste em manter aquela linha delicada, espécie de corda bamba, na qual Mons. Lefebvre caminhou toda sua vida. Os legalistas e os sedevacantistas não percebem que Deus nos ofereceu, na Fraternidade São Pio X, um bote salva-vidas em meio ao naufrágio. Naufrágio, sim: os chefes da Igreja, não ensinando mais a fé íntegra, deixam-nos como náufragos. No meio do mar, passa um bote salva-vidas. Dentro dele, um marujo valente oferece lugar aos que tentam se salvar no meio da noite e do frio. Alguns não entram porque o marujo não é o Papa. Outros não entram porque querem eles mesmos governar o bote. Pois perecerão de fome e de frio.

Não é este o posicionamento da Permanência. Nunca foi. Ter sido fundada como um grupo de leigos, deveu-se apenas às circunstâncias da época, pois padres e bispos tinham enlouquecido e já não pregavam a verdadeira fé. Mais tarde, quando a Fraternidade São Pio X começou a aparecer no mundo como o bastião em defesa da fé, tendo à sua frente um santo bispo, naturalmente Gustavo Corção e a Permanência foram se pondo à serviço da Fraternidade. Tivemos a graça de receber Mons. Lefebvre por diversas vezes, no Rio de Janeiro, firmando assim uma amizade e união de caridade que perdura até hoje. Por conseguinte, com toda a verdade, e cientes da honra que nos é feita, podemos dizer que a Permanência segue os passos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Esta é, portanto, a linha editorial da nossa querida Revista Permanência. Permanecer. Permanecemos esses anos todos fiéis a Deus, Nosso Senhor, à sua Igreja, à sua Doutrina, aos seus santos. Permanecemos aqueles que sempre fomos; e pretendemos, com o auxílio da graça divina, assim continuar. Que os textos que seguem neste primeiro número, e os que virão ao longo do ano, nos ajudem a Permanecer: Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós (S.Jo, 15)

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