O TERROR VERMELHO INVADE TOLEDO —
O texto seguinte é o relato assustador da invasão anarquista na cidade de Toledo, Espanha, em plena guerra civil — a Espanha foi o único país da Europa onde os socialistas permaneceram fiéis ao puro anarquismo de Bakunin. Ao longo do texto, o leitor poderá ver fotografias de algumas das igrejas saqueadas e destruídas em Toledo, já pelos invasores anarquistas, já por outros milicianos. O que mais nos dói, muito mais que a destruição da bela arte da belíssima Toledo, é o desprezo dos homens pela santa Realeza de Cristo Jesus.
As imagens, as tiramos do site do "Centro de Estudios Castilla-La Mancha" que, por sua vez, as tirou do acervo da "Biblioteca Nacional de Madrid". Recomendamos, para uma visão histórica das causas e desenlaces do drama espanhol, a leitura das páginas de Corção sobre a Guerra Civil Espanhola.
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"... podemos apenas concluir que a luta contra a Igreja na Espanha não se deve tanto a uma ignorância
com respeito a Fé Católica e suas instituições, mas a um ódio contra o Senhor e Seu Cristo..."
Pio XI, Dilectissima Nobis
Neste ínterim, o temível "terror vermelho", pesadelo da classe alta e média da Espanha, entrou em Toledo. Por volta do dia 23 de julho, os filetes de milicianos tinham-se transformado numa inundação. Bando deles, calçados de sandálias de sola de corda, vestidos de azul desbotado, vasculhavam as ruas, descobrindo fascistas e padres. Estes últimos eram enviados para interrogatórios e os primeiros, mortos onde fossem encontrados. Os homens das unidades tais como "Batalhão de Exterminação" e "Grupo de Vingança" pareciam acatar regras simples, sendo uma das principais matar qualquer pessoa de batina — monges principalmente. Toledo estava convertida numa barulhenta plaza de toros, mas o matador nunca se arriscava ser fisgado por sua vítima. Alguns padres foram avisados que escapariam à morte gritando "Viva o comunismo!". Muitos escaparam fazendo isto e alguma coisa mais que a milícia exigia — obscenidades, blasfêmias; muitos recusaram-se. O Padre Pascual Martin foi crivado de balas defronte à Igreja de São Nicolau, enquanto gritava "Viva Cristo Rey". Suas mãos estavam estendidas, apontando como as de Cristo, significando uma benção final para os seus assassinos ou estavam levantadas num instintivo esforço para arrancar as balas?
A maioria dos toledanos não ousava interceder em favor dos "bons padres" porque a intercessão implicaria em simpatias fascistas e a simples suspeita conduzia à execução e à prisão. Contudo, os padres mais populares foram escondidos por moradores da cidade durante o cerco. Uma mocinha, por exemplo, escondeu dois padres em seu apartamento, depois de uma apavorante perseguição pelas vielas por parte dos milicianos bebados. Mas estes ainda tiveram que enfrentar uma provação — das janelas podiam ver o corpo da Priora das Carmelitas atirado na rua e lá permanecendo por vinte e quatro horas sem ser molestado.
Diz-se que morreram em Toledo 107 padres; a maioria assassinada na via pública, nas primeiras horas de ocupação. As mulheres e as crianças rodeavam seus corpos, tirando dentre seus lábios migalhas de pão ou pedaços de cigarro. Contudo, as atrocidades cometidas em Toledo eram brandas, comparadas com as de Ciudad Real, a província vizinha do sul onde o terror causou a morte de todos os padres. Ninguém em Toledo diz ter visto milicianos dançando nas ruas com cadáveres de freiras desenterradas, rito este que teve lugar por toda a parte da Espanha (...)
Uma figura sempre presente desta época foi Romero, um caçador de rãs que seguia a milícia com sádico regozijo. Esfolava suas vítimas, amarrava-as em longos bambus, dos quais elas pendiam como miniaturas de seres humanos. Durante meses aterrorizou as matronas desacompanhadas nas portas das igrejas, arremessando as rãs em seus rostos e dizendo com uma risadinha: "É isto que você e suas filhas vão parecer quando nós as matarmos e escalpelarmos." Depois que a milícia entrou na cidade, e ele a seguia como um chacal e passava horas acocorado, comprazendo-se com o espetáculo dos padres assassinados.
Muitos toledanos pareciam chocados mais pela profanação do que pelos assassinatos. Um bando de milícia vestiu as batinas tintas de sangue, confiscou uma limusine aberta e saiu pelas ruas com uma imagem de São Francisco em tamanho natural, escorado no assento entre eles. Tinham-lhe arrancado os braços, posto um rifle em seus ombros e prenderam uma nota — rabiscada com o sangue dos padres — em seu peito: "Ele está conosco." Na praça da Igreja de S. Vicente, alguns milicianos imitavam uma tourada com capas bordadas a ouro e chapéus apanhados no museu diocesano. Mesmo o governador recentemente indicado, um homem de nome Vega, juntou-se à brincadeira. Vestido com paramentos pontificais, conduzia uma tumultuosa procissão com um báculo na mão, fingindo-se de Arcebispo, representando o rito de exorcismo na Frente Popular. Mas este espetáculo quase teve um desfecho violento quando um miliciano bêbado, tomando Vega pelo verdadeiro Arcebispo, deu-lhe um tiro bem no peito.
Os líderes republicanos responsáveis colocaram imediatamente guardas na catedral (apropriadamente conhecida na Europa como La Rica), no Museu de El Greco e em outros santuários da cidade, mas havia tantas igrejas em Toledo que era impossível protegê-las todas. São João da Penitência, São Lourenço e outras foram queimadas, só restando as paredes. Contudo, no Convento da Conceição, perto de Santa Cruz, uma súcia de anarquista fantasiados empurrava um retablo retratando a flagelação de Cristo. Depois de rápida discussão entre eles decidiram estraçalhar apenas a figura representativa de Cristo, e deixar ficar os flagelados — afinal, disseram eles, estão são os anarquistas antigos! Muitos camponeses abandonaram temporariamente sua tradicional piedade cristã. Um esfarrapado campesino destruiu uma imagem da Virgem na Igreja de São Vicente e depois caiu de joelhos pedindo, em prantos, o seu perdão.
Os cães e gatos desapareceram de Toledo; atirando em alvos vivos a milícia provava que era irresistível no manejo das armas. Arremesso de granadas, também, parecia intrigá-los. Nos quarteirões mais ricos atiravam-nas através das janelas dos andares superiores sem qualquer razão, uma vez que em Toledo não existiam os atiradores fascistas que infestaram Madri durante toda a guerra. O pessoal do Alcázar podia traçar o curso da milícia através da cidade pelo som das detonações de granadas.
(extraído de "O Cêrco do Alcázar de Toledo", de Cecil D. Eby, Nova Fronteira, Rio de janeiro)