O quarto discute-se assim. – Parece que nem todo o que pratica uma injustiça peca mortalmente.
1. – Pois, o pecado venial se opõe ao mortal. Ora, às vezes é pecado venial uma injustiça cometida; assim, diz o Filósofo, falando dos que agem injustamente: São pecados veniais os que cometemos, não somente ignorando, mas, por ignorância. Logo, nem todo aquele que comete uma injustiça peca mortalmente.
2. Demais. – Quem comete uma injustiça em matéria leve afasta-se pouco do meio termo. Ora, parece que isso se pode tolerar e deve ser contado entre os mínimos dos males, como está claro no Filósofo. Logo; nem todo o que comete uma injustiça peca mortalmente.
3. Demais. – A caridade é a mãe de todas as virtudes, e chama-se mortal o pecado que a contraria. Ora, nem todos os pecados opostos às outras virtudes são mortais. Logo, também nem sempre é pecado mortal cometer uma injustiça.
Mas, em contrário. – Tudo o que é contra a lei de Deus é pecado mortal. Ora, quem comete uma injustiça age contra o preceito da lei de Deus; porque esse ato ou se reduz ao furto, ou ao adultério, ou ao homicídio ou a outro semelhante, como ficará claro do que a seguir se dirá. Logo, todo aquele que comete uma injustiça peca mortalmente.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, quando tratamos da diferença dos pecados, pecado mortal é o que contraria a caridade, donde vem à vida da alma. Ora, todo dano que causamos a outrem repugna, em si mesmo, à caridade, a qual nos leva a querer o bem de outrem. Por onde, consistindo sempre a injustiça em causar dano a outrem, é manifesto que cometê-la é pecado genericamente mortal.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As palavras citadas do Filósofo se entendem da ignorância de fato, a que ele chama ignorância das circunstâncias particulares, que merece perdão; não, porém da ignorância de direito, que não escusa. Por onde, quem ignorando, comete uma injustiça, não a comete senão por acidente, como dissemos.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Quem comete injustiça em matéria leve não pratica um ato injusto, na sua noção perfeita, porque esse ato pode ser considerado como não repugnando, de maneira absoluta, à vontade de quem o sofre. Por exemplo, quem tirar uma fruta a outrem, ou algo de semelhante, sendo provável que essa pessoa não sei a lesada por isso, nem lho desagrade.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Os pecados contrários às outras virtudes nem sempre são em dano de outrem; mas, implicam, uma certa desordem relativa às paixões humanas. Logo, a comparação não colhe.