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Artigo 1 - Se a injustiça é um vício especial.

O primeiro discute-se assim – Parece que a injustiça não é um vício especial.

1. – Pois, diz a Escritura: Todo pecado é uma iniquidade. Ora, parece que iniquidade é o mesmo que injustiça, porque, se a justiça é uma igualdade, a injustiça há de ser uma desigualdade ou iniquidade. Logo a injustiça não é um pecado especial.

2. Demais. – Nenhum pecado especial se opõe a todas as virtudes. Ora, a injustiça se opõe a todas as virtudes; por exemplo, no adultério, opõe-se à castidade; no homicídio, à mansidão, e assim por diante. Logo, a injustiça não é um pecado especial.

3. Demais – A injustiça se opõe à justiça, cujo sujeito é a vontade. Ora, todo pecado depende da vontade, como diz Agostinho. Logo, a injustiça não é um pecado especial.

Mas, em contrário, a injustiça se opõe à justiça. Ora, a justiça é uma virtude especial. Logo, a injustiça é um vício especial.

SOLUÇÃO. – Há uma dupla injustiça. - Uma, a ilegal, oposta à justiça legal. E esta é essencialmente um vício especial, porque despreza o bem comum, que é um objeto especial. Mas, pelo seu fim, é um vício geral, porque desprezando o bem comum, o homem pode ser arrastado a todos os pecados. Assim como todos os vícios, enquanto repugnam ao bem comum, têm natureza de injustiça, isto é, são como derivados dela, conforme dissemos, ao tratar da justiça. - De outro modo, chama­se injustiça a que implica umas certas desigualdades, em relação a outrem; por exemplo, quando queremos ter mais bens, como as riquezas e as honras, e menos males, como os sofrimentos e os danos. E, então, a injustiça tem uma especial matéria e é um vício particular oposto à justiça particular.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Assim como a justiça legal implica uma relação com o bem comum humano assim, a justiça divina implica relação com o bem divino, a que repugna todo pecado. E a esta luz, dizemos que todo pecado é uma iniquidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A injustiça, mesmo a particular, opõe-se diretamente a todas as virtudes; isto é, enquanto que também os atos exteriores pertencem tanto à justiça como às outras virtudes morais, embora diversamente, conforme dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A vontade, como a razão, abrange a matéria moral na sua totalidade; isto é, as paixões, e as obras exteriores relativas a outrem. Mas, a justiça aperfeiçoa a vontade só enquanto esta pratica atos relativos a outrem. E o mesmo se dá com a injustiça.

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