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Artigo 15 - Se a prudência existe em nós por natureza.

O décimo quinto discute-se assim. – Parece que a prudência existe em nós por natureza.

1. – Pois, diz o Filósofo, as virtudes pertencentes à prudência, como a sínese, a gnome e outras semelhantes, parece serem naturais; não porém as pertencentes à sabedoria especulativa. Ora, coisas de um mesmo gênero têm a mesma natureza original. Logo, também a prudência existe em nós por natureza.

2. Demais. – A variação das idades é natural. Ora, a prudência é consequente às idades, conforme aquilo da Escritura: A sabedoria acha-se nos velhos, e a prudência, na vida dilatada. Logo, a prudência é natural.

3. Demais. – A prudência mais convém à natureza humana que a dos brutos. Ora, os brutos têm certas prudências naturais, como vemos no Filósofo. Logo, a prudência é natural.

Mas, em contrário, o Filósofo diz, a virtude intelectual tem a sua origem e o seu aumento sobretudo, na instrução: por isso, precisa da experiência e do tempo. Ora, a prudência é uma virtude intelectual, como já se estabeleceu. Logo, a prudência não existe em nós por natureza, mas, pela instrução e pela experiência.

SOLUÇÃO. – Como do sobredito resulta, a prudência implica o conhecimento, tanto o do universal, como o das açôes particulares, a que prudente aplica os princípios universais.

Quanto pois ao conhecimento desses princípios, a prudência é da mesma natureza que a ciência especulativa. Pois, os primeiros princípios universais de uma e de outra são naturalmente conhecidos, como resulta do que já dissemos. Salvo que os princípios gerais da prudência são mais conaturais ao homem; pois, como diz o Filósofo, a vida especulativa é melhor que a vida puramente humana. Mas os outros princípios universais posteriores, quer da razão especulativa, quer da prática, não os conhecemos por natureza, mas descobrindo-os por via da experiência ou da instrução. Quanto porém ao conhecimento particular daquilo que constitui o objeto da ação, de novo, é mister distinguir. Porque a ação tem por objeto o fim ou os meios. - Ora, os fins retos da vida humana são determinados. Por isso, podemos ter inclinação natural para esses fins; assim, como já dissemos certos têm disposição natural para determinadas virtudes, que os faz inclinarem-se para fins retos; e por consequência também fazem um juízo naturalmente reto sobre esses fins. - Ao contrário, os meios, nas coisas humanas, não são particularizados, mas diversificam-se de muitas maneiras, conforme à diversidade das pessoas e dos negócios. Por onde, sendo a inclinação da natureza sempre para um objeto determinado, o conhecimento dos meios o homem não pode tê-lo naturalmente, embora, por disposição natural, um seja mais apto que outro para discerni-los, como também se dá com as conclusões das ciências especulativas. - Ora, a prudência, não tendo por objeto os fins, mas os meios, como já estabelecemos, ela não é, portanto, natural.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – No lugar citado, o Filósofo se refere às virtudes pertinentes à prudência, quando esta se ordena para fins. Por isso dissera antes, que os princípios concernem àquilo por causa do que alguma coisa se faz, isto é, o fim. E por isso, não menciona, entre essas virtudes, a eubulia que aconselha sobre os meios.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A prudência é própria, sobretudo, dos velhos, não só por causa da sua disposição natural, acalmados os movimentos das paixões sensíveis, mas também pela sua experiência temporalmente longa.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os brutos chegam ao fim por vias determinadas; por isso vemos que todos os animais da mesma espécie obram do mesmo modo. Mas isto não pode dar-se com o homem, por causa da razão que, podendo conhecer o universal, se estende a infinitos casos particulares.

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