O oitavo discute-se assim. – Parece que mandar não é o ato principal da prudência.
1. – Pois, mandar é relativo aos bens a serem feitos. Ora. Agostinho considera um ato de prudência acautelar-se contra as insidias. Logo, mandar não é o ato principal da prudência.
2. Demais. – O Filósofo diz que é próprio do prudente aconselhar. Ora, um ato é aconselhar e outro, mandar, como do sobredito resulta. Logo, o ato principal de prudência não é mandar.
3. Demais. – Mandar ou ordenar parece pertencer à vontade, cujo objeto é o fim, motor das outras potências da alma. Ora, a prudência não está na vontade, mas na razão. Logo, não é ato de prudência mandar.
Mas, em contrário, o Filósofo diz, que a prudência é preceptiva.
SOLUÇÃO. – A prudência é a razão reta aplicada aos nossos atos, como dissemos Por onde e necessariamente, o ato principal da prudência será o ato principal da razão aplicada aos nossos atos. Ora, três são os atos principais da razão. O primeiro é aconselhar, próprio da invenção, pois aconselhar é indagar, como já estabelecemos. O segundo ato é julgar as cousas descobertas; e a isso se limita a razão especulativa. Mas, a razão prática, que ordena para a obra, vai além e tem como terceiro ato mandar, ato consistente na aplicação à obra do que foi aconselhado e julgado. E sendo este ato mais próximo ao fim da razão prática, daí resulta ser ele o ato principal dessa razão e, por consequência, da prudência.
E a prova disto é que a perfeição da arte consiste em julgar, não porém em mandar. Por isso, é considerado melhor artista o que peca na sua arte, voluntariamente, mostrando assim ter um juízo reto, que o que peca involuntariamente, o que se considera falta de julgamento. Ora, com a prudência dá-se o contrário, como diz Aristóteles; pois, é mais imprudente quem peca voluntariamente, claudicando, por assim dizer, no ato principal da prudência, que é mandar, do que aquele que peca involuntariamente.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O ato de mandar se estende aos bens, que devemos buscar e aos males, que devemos evitar. E contudo, o acautelar-se contra as ciladas Agostinho não o atribui à prudência, como o principal movimento dela, mas, somente diz, que esse ato da prudência não permanece na pátria.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A bondade do conselho exige sejam aplicados à ação os bons meios descobertos. Por onde, mandar pertence à prudência, que aconselha acertadamente.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Mover, absolutamente falando, pertence à vontade. Mas mandar implica, a moção acompanhada de uma certa ordem. Logo, é um ato da razão, como dissemos antes.