O quarto discute-se assim. – Parece que a prudência não é virtude.
1 – Pois, diz Agostinho, a prudência é a ciência das coisas que devemos desejar e das que devemos evitar. Ora, a ciência é distinta da virtude, como está claro em Aristóteles. Logo, a prudência não é virtude.
2. Demais. – Não há virtude de virtude. Ora, há uma virtude da arte, como diz o Filósofo. Logo, a arte não é virtude. Ora, na arte há prudência; pois, diz a Escritura que Rirão sabia lavrar todo gênero de escultura, e inventar engenhosamente tudo quanto é necessário em toda a casta de obras. Logo, a prudência não é uma virtude.
3. Demais. – Nenhuma virtude pode ser imoderada. Ora, a prudência é imoderada; do contrário, a Escritura teria dito em vão: Põe termo à tua prudência. Logo, a prudência não é virtude.
Mas, em contrario, Gregório diz que a prudência a temperança, a fortaleza e a justiça são quatro virtudes.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, quando tratamos das virtudes em geral, a virtude torna bom aquele que a tem e lhe torna boas as obras. Ora, podemos considerar o bem à dupla luz: materialmente, significando aquilo que é bom; e formalmente, aquilo que é em essência bom. Ora, o bem, como tal, é o objeto da potência apetitiva. Por onde, se há hábitos que regulem a consideração reta da razão, fazendo abstração da retidão do apetite, tais hábitos são virtudes menos essencialmente, porque ordenam para o bem materialmente, isto é, ao que é bem, mas não sob a sua razão formal. Mas os hábitos concernentes à retidão do apetite são virtudes, mais essencialmente, por terem por objeto o bem, não só material, mas também, formalmente, isto é, o que se apresenta sob a razão formal de bem. Ora, à prudência pertence a aplicação da razão reta às obras, o que não é possível sem a retidão do apetite, portanto, a prudência não só tem a natureza de virtude, como as outras virtudes intelectuais, mas também como as virtudes morais, entre as quais é colocada.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – No lugar citado, Agostinho toma a ciência por qualquer retidão racional.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O Filósofo diz, que há uma virtude da arte, porque a arte não implica a retidão do apetite. Por onde, para o homem usar bem da arte é necessário ter a virtude que produz a retidão do apetite. Ora, não há lugar para a prudência no concernente à arte; quer pela arte se ordenar a um fim particular; quer por ter meios determinados para chegar ao seu fim. Dizemos, contudo que alguém obra prudentemente, no domínio da arte, por uma certa semelhança. Pois, em certas artes, pela incerteza dos meios de se chegar ao fim, é necessário o conselho; tais as artes de curar foi de navegar, como diz Aristóteles.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O dito citado do Sábio não se deve entender como significando que a prudência, em si mesma, deve ser moderada; mas, que devemos moderar todas as coisas, pela prudência.