O quinto discute-se assim. – Parece que, inconvenientemente, ao preceito – Amaras ao Senhor teu Deus de todo o teu coração - se acrescenta: - e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.
1. – Pois, coração não é aqui tomado por um órgão corpóreo, porque amar a Deus não é ato do corpo. Logo, havemos de tomar o coração no seu sentido espiritual. Ora, neste sentido o coração é ou a alma mesmo, ou algo dela. Portanto, era supérfluo falar naquele e nesta.
2. Demais. – A fortaleza do homem depende especialmente do coração, quer consideremos a este espiritualmente, quer corporalmente. Logo depois do dito, - Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração - era supérfluo acrescentar - e de todas as tuas forças.
3. Demais. – O Evangelho diz - de todo o teu entendimento o que não se menciona no lugar em questão. Logo, parece que este preceito está inconvenientemente formulado pela Escritura.
Mas, em contrário, é a autoridade da mesma Escritura.
SOLUÇÃO. – O preceito em questão encontramo-lo diversamente referido em diversos lugares da Escritura. Pois, no lugar citado, três condições se estabelecem: de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças. O Evangelho só fala de duas: de todo o teu coração e de toda a tua alma, omitindo de todas as tuas forças, mas acrescentando, de todo o teu entendimento. Noutro lugar do Evangelho se estabelecem quatro: de todo o teu coração, de toda a lua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas virtudes, que é o mesmo que força. E ainda noutro lugar, o Evangelho toca nessas quatro condições, pois em vez de força ou virtude, diz, com todas as tuas forças.
Por onde, devemos assinalar a razão dessas quatro condições. Pois, se uma delas se omite num lugar, é por estar suficientemente compreendida nas outras. Devemos, pois, considerar que o amor é ato de vontade, o que, no lugar referido acima, é significado pelo coração, pois, assim como o coração, materialmente falando, é o princípio de todos os movimentos do corpo, assim também a vontade, sobretudo quando relativa à intenção do fim último, que é o objeto da caridade, é o principio de todos os movimentos espirituais. Três porém são os princípios dos atos movidos pela vontade, a saber: o intelecto, significado pelo entendimento; a potência apetitiva inferior, significada pela alma; a potência executiva exterior, significada pela força ou virtude ou forças. Por isso nos é preceituado que todas as nossas intenções sejam dirigidas para Deus, o que é significado pela expressão - de todo o teu coração; e que o nosso intelecto seja sujeito a Deus, o que está na expressão - de todo o entendimento; e que o nosso apetite seja regulado pela lei de Deus, o que é significado pela expressão - de toda a alma; e que os nossos atos exteriores obedeçam a Deus, e tal é o sentido das expressões amar a Deus de toda a tua força, ou virtude, ou de todas as tuas forças. Crisóstomo, porém toma as expressões coração e alma - em sentido contrário ao que acaba de ser explicado. - Agostinho, por seu lado, refere coração aos pensamentos; alma, à vida; e entendimento, ao intelecto. - Mas outros dizem; pelo coração, isto é, pelo intelecto; pela alma, isto é, pela vontade; e pelo entendimento, isto é, pela memória. - Ou, segundo Gregório Nissen coração significa a alma vegetativa; alma, a sensitiva; entendimento, a intelectiva: pois, o pelo que nos nutrimos, sentimos e inteligimos, devemos referir a Deus.
Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.