O décimo discute-se assim. – Parece que não devemos dar esmola abundantemente.
1. – Pois, devemos dar esmola de preferência aos que nos são mais chegados. Ora, não lha devemos dar de modo que, com ela, se tornem mais ricos, como diz Ambrósio. Logo, também não devemos dá-la abundantemente aos outros.
2. Demais. – No mesmo lugar diz Ambrósio: As riquezas não devem ser distribuídas ao mesmo tempo, mas dispensadas, Ora, dar esmolas em abundância é distribuí-las. Logo, não devemos dá-la abundantemente.
3. Demais. – Diz o Apóstolo: Não para que os outros hajam de ter alívio, isto é, os outros vivam ociosamente do que é vosso, e vós fiqueis em aperto, isto é, em pobreza. Ora, tal aconteceria se se desse esmola abundantemente. Logo, não devemos distribuí-la com abundância.
Mas, em contrário, a Escritura. Se tiveres muito, dá muito.
SOLUÇÃO. – A abundância da esmola pode ser considerada relativamente a quem dá e a quem a recebe. - Relativamente a quem dá, quando damos muito em proporção às nossas posses. E então, é louvável dar abundantemente. Por isso o Senhor louvou a viúva, que deu da sua mesma indigência tudo o que lhe restava para o seu sustento. Devemos contudo observar o que dissemos acima sobre a esmola, que devemos dar, do necessário. - Relativamente a quem é dada, a esmola pode ser abundante de dois modos. De um modo, satisfazendo-lhe suficientemente a necessidade; e, então é louvável dá-la em abundância. De outro modo, superabundando, com superfluidade, e isto não é louvável; mas é melhor dar mais aos mais necessitados. Donde o dizer o Apóstolo: Se eu distribuir em o sustento dos pobres; o que comenta a Glosa! Por aqui ensina que a esmola deve ser cautelosa, de maneira a darmos não a um só, mas a muitos, de modo que aproveite ao maior número.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A objeção colhe, relativamente ao que sobre-excede à necessidade de quem recebe a esmola.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O lugar citado se refere à abundância da esmola relativamente a quem a dá. Ora, como devemos compreender Deus não quer que distribuamos ao mesmo tempo todas as nossas riquezas, senão quando mudemos de estado. Por isso acrescenta aí mesmo: Senão, talvez, como Eliseu, que matou os seus bois e deu de comer aos pobres com o que tinha, para não se preocupar com nenhum cuidado doméstico.
RESPOSTA À TERCEIRA. – O lugar aduzido, quando diz - Não para que os outros hajam de ter alívio ou refrigério - refere-se à abundância da esmola sobreexcedente à necessidade daquele que a recebe, a quem não devemos dá-la para viver luxuriosamente, mas para sustentarse com ela. No que, entretanto, deve haver discernimento da razão, levando em conta as diversas condições dos homens; dos quais, os criados com maior delicadeza precisam de alimentos e roupas mais delicados. Por isso diz Ambrósio: do dar esmolas devemos considerar a idade e a fraqueza; às vezes também a vergonha, que manifesta os de nascimento nobre; ou ainda se quem a recebe caiu da riqueza na pobreza, sem culpa sua. E quando acrescenta - e vós fiqueis em aperto - refere-se à abundância relativamente a quem a dá. Mas, como explica a Glosa a esse mesmo lugar não quer com isso dizer que não seja melhor dar abundantemente; mas teme pelos fracos. aos quais exorta deem, de modo a não padecerem pobreza.