O sexto discute-se assim. – Parece que a esperança não é uma virtude distinta das outras virtudes teologais.
1. – Pois, os hábitos distinguem-se pelos seus objetos, como já se disse. Ora, o objeto da esperança é o mesmo que o das outras virtudes teologais. Logo, a esperança não se distingue das outras virtudes teologais.
2. Demais. – No Símbolo, no qual confessamos a fé, dizemos: Espero a ressurreição dos mortos e a ida do século futuro. Ora, esperar a felicidade futura é próprio da esperança, como já se disse. Logo, a esperança não se distingue da fé.
3. Demais. – Pela esperança o homem tende para Deus. Ora, isto propriamente pertence à caridade. Logo, a esperança não difere da caridade.
Mas, em contrário. – Onde não há distinção não há número. Ora, a esperança é enumerada entre as outras virtudes teologais; pois, diz Gregório, há três virtudes teologais: a esperança, a fé e a caridade. Logo, a esperança é uma virtude distinta das outras virtudes teologais.
SOLUÇÃO. – Chama-se teologal à virtude que tem Deus por objeto, com o qual se une. Ora, um ser pode unir-se a outro de dois modos: considerado este último em si mesmo, ou, como meio para chegar a um terceiro. Ora, a caridade leva o homem, a unir-se a Deus em si mesmo, unindo-lhe o coração pelo afeto do amor. A esperança porém, e a fé fazem-no unir-se a Deus, como ao princípio donde lhe decorrem certos bens. Assim, de Deus nos provém o conhecimento da verdade e a consecução da bondade perfeita. Por onde, a fé leva o homem a unir-se a Deus como o princípio pelo qual conhecemos a verdade; pois, cremos ser verdade o que Deus nos disse. A esperança, por seu lado, leva-nos à união com Deus, como princípio, para nós, da bondade perfeita; isto é, enquanto, pela esperança, confiamos no auxílio divino para obter a felicidade.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Deus é objeto das referidas virtudes, por diferentes razões, como dissemos. Ora, para haver distinção entre os hábitos basta que a natureza dos seus objetos seja diversa, segundo demonstramos.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A esperança entra no símbolo da fé, não por ser um ato próprio desta, mas por pressupor o ato de esperança a fé, como a seguir se dirá. E assim, o ato de fé manifesta-se pelo da esperança.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A esperança faz nos tender para Deus como um bem final que devemos alcançar e como um auxílio eficaz para nos socorrer. A caridade, porém, faz propriamente tender para Deus, unindo-nos com Ele pelo afeto, de modo a vivermos, não para nós, mas para Deus.