O quinto discute-se assim. – Parece que a esperança não é uma virtude teologal.
1. – Pois, a virtude teologal tem Deus por objeto. Ora, a esperança não tem só a Deus por objeto, mas também os outros bens que d'Ele esperamos obter. Logo, a esperança não é uma virtude teologal.
2. Demais. – A virtude teologal não é um meio termo entre dois vícios, como se estabeleceu. Ora, a esperança consiste num meio termo entre a presunção e o desespero. Logo, não é uma virtude teologal.
3. Demais. – A expectativa é própria da longaminidade, que faz parte da fortaleza. Ora, sendo a esperança uma expectativa, resulta que não é uma virtude teologal, mas moral.
4. Demais. – O objeto da esperança é difícil. Ora, buscar o difícil é próprio da magnanimidade, que é uma virtude moral. Logo, a esperança é uma virtude moral e, não, teologal.
Mas, em contrário, o Apóstolo enumera a fé e a caridade entre as virtudes teologais.
SOLUÇÃO. – Como as diferenças específicas dividem, por si mesmas, o gênero, é preciso examinar o que torna essencialmente a esperança uma virtude, para sabermos que espécie de virtude é. Ora, como dissemos a esperança é essencialmente uma virtude, por depender da regra suprema dos atos humanos. Esta lhe é a causa eficiente, a esperança com o seu auxílio; e causa final última, porque espera, gozando-a, ter a felicidade. Por onde é claro que, como virtude, a esperança tem por objeto principal Deus. Ora, consistindo a essência da virtude teologal em ter Deus como objeto; segundo já dissemos, é claro que a esperança é uma virtude teologal.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Tudo o que a esperança almeja alcançar é em dependência de Deus, como fim último ou como causa eficiente primeira, segundo dissemos.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O meio termo do que é regulado e medido está na sujeição à regra ou à medida; sendo supérfluo o que a exceder e deficiente o que não a atinge. Mas a regra mesma ou a medida não é susceptível de meio nem de extremos. Ora, a virtude moral tem como objeto próprio o que é regulado pela razão; e portanto convém-lhe essencialmente ser um meio termo, quanto ao seu objeto próprio. A virtude teologal, porém, tem como objeto próprio a regra primeira mesma, não dependente de nenhuma outra regra. Por onde, essencialmente e quanto ao seu objeto próprio, não convém à virtude teologal ser um meio termo; mas, tal pode lhe convir por acidente, em razão do que é ordenado ao objeto principal. Assim, a fé não pode ter meio termo e extremos, por fundar-se na verdade primeira, da qual nunca podemos suficientemente depender. Mas, considerando-se o que ela crê, pode ter meio e extremos, assim como uma mesma verdade é meio termo entre duas falsidades. Semelhantemente, a esperança, quanto ao seu objeto principal, não tem meio nem extremos, porque nunca podemos suficientemente confiar no auxilio divino. Mas, quanto ao que temos confiança de alcançar, pode ser susceptível tanto de meio como de extremos, quer por presumirmos o que nos excede a capacidade, ou por desesperarmos do que nos é proporcionado.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A expectativa incluída na definição da esperança não implica a dilação, como se dá com a expectativa própria da longanimidade, Mas, implica uma relação com o auxílio divino, quer seja concedido o que é esperado, quer não.
RESPOSTA À QUARTA. – A magnanimidade busca o que é difícil, esperando o que lhe está ao alcance; por isso, implica, propriamente, em fazer certas grandes obras. A esperança, porém, enquanto virtude teologal, visa o difícil, buscando-o com auxílio estranho, como dissemos.