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Artigo 4 - Se qualquer ação do infiel é pecado.

O quarto discute-se assim. – Parece que toda ação do infiel é pecado.

1. – Pois, aquilo do Apóstolo - Tudo o que não é segundo a fé é pecado - diz a Glosa: Toda a vida dos infiéis é pecaminosa. Ora, à vida dos infiéis pertence tudo o que fazem. Logo, toda ação do infiel é pecado.

2. Demais. – A fé dirige a intenção. ­ Ora, nenhum bem pode provir senão da intenção reta. Logo, os infiéis não podem praticar nenhuma boa ação.

3. Demais. – Corrupto o anterior, corrompido fica o posterior. Ora, o ato de fé precede os atos de todas as virtudes. Logo, não podendo os infiéis fazer ato de fé, nenhuma boa obra podem fazer e pecam em todas as que praticam.

Mas, em contrário, diz a Escritura, que Deus aceitou as esmolas que fez Cornélio, ainda infiel. Logo, nem toda ação do infiel é pecado, mas alguma pode dar boa.

SOLUÇÃO. – Como já se disse, o pecado mortal priva da graça santificante, mas não corrompe totalmente o bem da natureza. Por isso, sendo a infidelidade pecado mortal, os infiéis estão privados da graça; mas, neles permanece algum bem da natureza. Por onde é manifesto, que não podem praticar as boas obras dependentes da graça e as meritórias. Mas podem, de algum modo, praticar as boas obras para que basta o bem da natureza. Por onde, não pecam necessariamente em tudo o que fazem. Mas sempre que fazem alguma obra procedente da infidelidade, então pecam. Pois assim como o que tem a fé pode pecar, venial ou mesmo mortalmente, praticando um ato que não se coaduna com o fim da fé; assim também pode o infiel praticar um ato bom qualquer, que não se coaduna com o fim da infidelidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ O lugar citado é possível entendê-la como significando, que a vida dos infiéis não pode ser sem pecado, desde que sem fé os pecados não podem ser eliminados; ou que tudo o que fazem por infidelidade é pecado. Por isso, no mesmo lugar se acrescenta: Porque todo o que vive ou age na infidelidade peca veementemente.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A fé rege a intenção relativamente ao fim último sobrenatural. Mas, também o lume da razão natural pode dirigir a intenção relativamente a qualquer bem que lhe seja conatural.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A infidelidade não corrompe totalmente a razão natural dos infiéis, de modo a privá-los de qualquer conhecimento da verdade, pela qual podem praticar certas obras genericamente boas. Quanto a Cornélio, importa saber que não era infiel; do contrário, Deus, a quem ninguém pode agradecer sem a fé, não lhe aceitaria o ato. Pois tinha fé implícita, ainda não manifestada pela verdade do Evangelho. Por isso foi-lhe mandado Pedro, afim de instrui-lo mais plenamente na fé.

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