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Art. 8 – Se o voto de obediência é o mais principal dos três votos de religião.

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O oitavo discute–se assim. – Parece que o voto de obediência não é o mais principal dos três votos de religião.

1. – Pois, a perfeição da vida religiosa começou com Cristo. Ora, Cristo especialmente aconselhou a pobreza e não vemos que tenha aconselhado a obediência. Logo, o voto de pobreza é mais principal que o de obediência.

2. Demais. – A Escritura diz: Todo preço é nada em comparação de uma alma continente. Ora, o voto que tem um objeto mais digno é mais principal. Logo, o voto de continência é mais principal que o voto de obediência.

3. Demais. – Quanto mais principal é um voto tanto mais indispensável é, segundo parece. Ora, os votos de pobreza e de continência são tão essenciais às regras monacais, que nem o Sumo Pontífice pode dispensar deles, de conformidade com uma decretal; e pode contudo dispensar um religioso da obediência ao seu prelado. Logo, parece que o voto de obediência é menos principal que o da pobreza e da continência.

Mas, em contrário, diz Gregório: Por direito, a obediência é preferível à oblação de vitimas, porque sacrificando estas, sacrificamos a carne alheia, ao passo que pela obediência, sacrificamos a nossa própria vontade. Ora, os votos de religião constituem, de certo modo, um holocausto, como dissemos. Logo, o voto de obediência é o mais principal entre todos os votos de religião.

SOLUÇÃO. – O voto de– obediência é o principal, dos três votos de religião. E isto por três razões. – Primeiro, porque, pelo voto de obediência oferecemos a Deus o bem da nossa vontade, maior que o ao corpo, que o religioso consagra a Deus pela continência; e que o das coisas exteriores, que oferece a Deus pelo voto de pobreza. Por onde, o que fazemos por obediência é mais aceito de Deus que o que fazemos por nossa vontade própria, conforme o diz Jerônimo: Pelo meu discurso quero ensinar–te a não procederes conforme ao teu arbítrio. E logo depois acrescenta: Não faças o que queres, come o que te mandam, recebe o que te derem, veste o que te deixarem. E por isso também o jejum não é recebido de Deus quando por nossa vontade própria o fazemos, segundo a Escritura: No dia do vosso jejum se acha a vossa vontade. – Segundo, porque o voto de obediência em si contém os outros votos, mas não ao inverso. Pois, o religioso, embora obrigado a observar o voto de continência e o de pobreza, contudo também estes caem sob a obediência, que abrange muito mais matéria além da observância da continência e da pobreza. – Terceiro, porque o voto de obediência propriamente se estende aos atos próximos ao fim da religião. Ora, quanto mais uma coisa é próxima do fim tanto melhor é. Donde, também o voto de obediência é mais essencial à religião. Quem, pois, sem o voto de obediência, observa a pobreza voluntária e a continência, mesmo com voto, nem por isso professa o estado de religião, o qual se antepõe mesmo do estado de virgindade observado por voto. Assim, diz Agostinho: Ninguém, que eu saiba, ousou antepor a virgindade à vida monástica.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O conselho da obediência se inclui na vida dos que querem seguir a Cristo, pois, quem obedece segue a vontade de outrem. Por isso, a obediência realiza mais a perfeição que o voto de pobreza; pois, como diz Jerónimo, a perfeição Pedro a acrescentou, quando disse: e te seguimos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Do lugar citado não se depreende, que a continência se anteponha a todos os outros atos virtuosos, mas sim, à castidade conjugal, ou ainda às riquezas exteriores do ouro e da prata que se calculam pelo peso. – Ou, pela continência se entende, em universal, a abstenção de todo mal, como se estabeleceu.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O Papa não pode dispensar o religioso do voto de obediência de modo tal que fique livre de obedecer ao prelado no atinente à perfeição da vida; pois, não pode eximi–lo de lhe obedecer a si. Pode porem isentá–lo da sujeição a um prelado inferior, o que não é dispensar do voto de obediência.

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