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Art. 1 – Se a perfeição da vida cristã se funda especialmente na caridade.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a perfeição da vida cristã não se funda especialmente na caridade.

1. – Pois, diz o Apóstolo: Sede meninos na malícia e sede perfeitos no sentido. Ora, a caridade não concerne ao juízo, mas antes, ao afeto. Logo, parece que a perfeição da vida cristã não consiste principalmente na caridade.

2. Demais. – O Apóstolo diz: Tomai a armadura de Deus para que possais resistir no dia mau e estar completos em tudo. Quanto à armadura de Deus, acrescenta: Estai firmes, tendo cingido os vossos lombos em verdade e vestidos da couraça da justiça, embraçando sobretudo o escudo da fé. Logo, a perfeição da vida cristã não somente se funda na caridade, mas também nas outras virtudes.

3. Demais. – As virtudes, como os outros hábitos, se especificam pelos atos. Ora, a Escritura diz, que a paciência deve ser perfeita nas suas obras. Logo, parece que o estado de perfeição se funda, antes, na paciência.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Sobretudo revesti–vos de caridade, que é o vínculo da perfeição, pois, de certo modo ela liga todas as outras virtudes por uma unidade perfeita.

SOLUÇÃO. – Um ser é considerado perfeito quando atinge o fim próprio, que é a sua última perfeição. Ora, pela caridade nós nos unimos a Deus, fim último da alma humana, pois, aquele que permanece na caridade permanece em Deus, como diz a Escritura. Logo, é especialmente na caridade que se funda a perfeição da vida cristã.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A perfeição dos juízos humanos está em conviver na verdade una, segundo o Apóstolo: Sede perfeitos em um mesmo sentimento e em um mesmo parecer. Ora, isto o realiza a caridade, que unifica as opiniões dos homens. Por onde, também a perfeição dos juízos se radica totalmente na perfeição da caridade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – De dois modos pode uma pessoa ser considerada perfeita. – Primeiro essencialmente falando, e essa perfeição se funda no que respeita à natureza mesma do ser; tal o caso do animal que é considerado perfeito por não ter nenhuma falha na disposição dos seus membros e no mais que é exigido pela sua vida. – Noutro sentido a perfeição é relativa e se funda nalgum atributo externo, por exemplo, na brancura, na negrura ou outra semelhante. Ora, a vida cristã consiste especialmente na caridade, pela qual a nossa alma se une com Deus, donde o dito da Escritura: Aquele que não ama permanece na morte. Por isso, na caridade é que se funda, essencialmente falando, a perfeição da vida cristã; e nas outras virtudes, relativamente. Ora, como o essencial é principalíssimo e máximo em relação a tudo o mais, dai resulta que a perfeição da caridade é principalíssima em relação à perfeição fundada nas outras virtudes.

RESPOSTA À TERCEIRA. – A paciência é considerada perfeita nas suas obras em ordem à caridade, enquanto que a abundância desta faz tolerarmos pacientemente as adversidades, segundo aquilo do Apóstolo: Quem nos separará do amor de Deus? Será a tribulação? ou de angústia? etc.

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