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Art. 8 – Se a vida contemplativa é diuturna.

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O oitavo discute–se assim. – Parece que a vida contemplativa não é diuturna.

1. – Pois, a vida contemplativa essencialmente consiste nas coisas do intelecto. Ora, todas as perfeições intelectuais desta vida desaparecerão, segundo o Apóstolo: Ou deixem de ter lugar as profecias ou cessem as línguas ou seja abolida a ciência. Logo, a vida contemplativa desaparecerá.

2. Demais. – A doçura da contemplação todos os homens a gozam momentânea e transitivamente. Donde o dizer Agostinho: Vós me penetrais de um sentimento bem estranho, de não sei que doçura interior, mas, de novo descambo para as coisas da terra pelo peso da minha miséria. E também Gregório, expondo aquilo da Escritura – E ao passar diante de mim um espírito – diz: A alma não se fixa diuturnamente na suavidade da contemplação íntima, porque reentra em si mesma ofuscada pela intensidade da luz divina. Logo, a vida contemplativa não é diuturna.

3. Demais. – O que não é conatural ao homem não lhe pode ser diuturno. Ora, a vida contemplativa é superior à capacidade humana, como ensina o Filósofo. Logo, parece que não pode ser diuturna.

Mas, em contrário, diz o Senhor: Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada. Pois, como diz Gregório, a vida contemplativa começa neste mundo e se consuma na palha.

SOLUÇÃO. – Uma coisa pode ser diuturna de dois modos: pela sua natureza mesma e relativamente a nós. – Ora, em si mesma, é manifestamente diuturna a vida contemplativa, a dupla luz. Primeiro, porque versa sobre o incorruptível e o imóvel. Segundo, porque nada lhe é contrário: pois, como ensina o Filósofo, o prazer da contemplação não tem nenhuma contrariedade. – Mas também relativamente a nós a vida contemplativa é diuturna. Quer porque, sendo­nos própria, pela ação da parte incorruptível da alma, que é o intelecto, pode perdurar depois desta vida; quer também por que os atos da vida contemplativa, não demandando nenhum trabalho material. podemos persistir mais continuadamente neles, como diz o Filósofo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O modo da contemplação não é o mesmo nesta vida e na pátria; mas, dizemos que a vida contemplativa subsiste em razão da caridade, na qual tem o seu principio e o seu fim. E é o que diz Gregório: A vida contemplativa começa neste mundo e se consuma na pátria; porque o fogo do amor, que aqui começa a arder, mais se acenderá no amor daquele a quem não somente amamos; mas também contemplamos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Nenhuma ação pode durar muito quando atingiu o seu sumo grau. Ora, o sumo grau da contemplação é atingir a uniformidade da contemplação divina, como diz Dionísio, segundo estabelecemos. Por onde, embora por aí a contemplação não possa durar muito, contudo o pode, quanto aos outros atos dela.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O Filósofo diz que a vida contemplativa excede a capacidade humana, porque nos cabe pelo que de divino temos em nós, a saber, o intelecto, o qual, sendo em si mesmo incorruptível e impassível, a sua ação pode ser mais diuturna.

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