O quinto discute–se assim. – Parece que nenhuma profecia pode provir do demônio.
1. – Pois, a profecia é uma revelação divina, como diz Cassiodoro. Ora, o que é feito pelo demônio não é divino. Logo, nenhuma profecia pode provir do demônio.
2. Demais. – O conhecimento profético pressupõe alguma iluminação, como se disse. Ora, os demônios não iluminam o intelecto humano, como foi estabelecido na Primeira Parte. Logo, nenhuma profecia pode provir dos demônios.
3. Demais. – Não é um sinal eficaz o que pode indicar coisas contrárias. Ora, a profecia é sinal confirmativo da fé. Por isso, àquilo do Apóstolo – Ou seja a profecia, segundo a proporção da fé – diz a Glosa: Notai que, na enumeração das graças, começa pela profecia, primeira prova de ser a nossa fé racional; porque os crentes projetavam depois de terem recebido o Espírito Santo. Logo, a profecia não pode ser dada pelos demônios.
Mas, em contrário, a Escritura: Faze ajuntar todo o povo de Israel no Monte Carmelo e os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas dos bosques, que comem da mesa de Jesabel. Ora, esses tais eram adoradores dos demônios. Logo, parece que certas profecias também podem proceder dos demônios.
SOLUÇÃO. – Como dissemos, a profecia implica um certo conhecimento, que permanece inacessível à inteligência humana. Ora, é manifesto, que o intelecto de uma ordem superior pode conhecer certas cousas, inacessíveis ao conhecimento de um intelecto inferior. Mas, superior ao intelecto humano é não somente o intelecto divino, mas também o dos anjos bons e maus, segundo a ordem da natureza. Por isso, os demônios conhecem certas coisas, mesmo pelo conhecimento natural, que são superiores ao conhecimento humano, e as quais eles podem revelar aos homens. Mas, absolutamente falando, as coisas mais inacessíveis são as que só Deus conhece. Por onde, a profecia, própria e absolutamente falando, só se realiza pela revelação divina. Porém, a revelação mesma feita pelos demônios pode, de certo modo, chamar–se profecia. Por isso, aqueles a quem o demônio fez alguma revelação não se chamam na Escritura profetas, em sentido absoluto, mas com um acréscimo; por exemplo, falsos profetas ou profetas dos ídolos. Donde o dizer Agostinho: Quando o espírito mau se apodera dos homens para tais coisas, isto é, para visões, faz deles endemoninhados, possessos ou falsos profetas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Cassiodoro, nesse lugar, define a profecia própria e absolutamente assim chamada.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Os demônios manifestam o que sabem aos homens; não por iluminação do intelecto, mas, por alguma visão imaginária; ou ainda, falando–lhes sensivelmente. E, por aí, essa profecia se afasta da verdadeira.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Por certos sinais, mesmo exteriores, pode a profecia dos demônios ser discernida da profecia divina. Por isso, diz Crisóstomo, que certos profetizam com espírito diabólico, e são os adivinhos; mas assim os conhecemos, porque o diabo às vezes mente, ao passo que o Espírito Santo, nunca. Donde o dito da Escritura: Se tu disseres lá no teu coração – como poderei eu discernir qual é a palavra, que o Senhor não disse? terás este sinal: se o que aquele profeta predisse em nome do Senhor não sucedeu assim, isto não o disse o Senhor.