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Art. 5 – Se a humildade é a máxima das virtudes.

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O quinto discute–se assim. – Parece que a humildade é a primeira das virtudes.

1. – Pois, Crisóstomo, expondo aquilo do fariseu e do publicano, no Evangelho, diz: Se a humildade, ainda quando de mistura com o pecado, tem tanta força, que sobrepuja a justiça quando acompanhada do orgulho, até onde não iria junta com a justiça? Iria sentar–se no mesmo tribunal de Deus, no meio dos anjos. Por onde é claro que a humildade é preferível à justiça. Ora, a justiça é a preclaríssima das virtudes, ou as inclui todas, como está claro no Filósofo. Logo, a humildade é a máxima das virtudes.

2. Demais. – Agostinho diz: Pensas em construir uma fábrica de grande altura? Pensa primeiro no seu fundamento de humildade. Por onde se vê ser a humildade o fundamento de todas as virtudes e, logo, maior que todas.

3. Demais. – Maior virtude merece maior prémio. Ora, a humildade merece o maior dos prêmios, pois, na frase do Evangelho, quem se humilha será exaltado. Logo, a humildade é a máxima das virtudes.

4. Demais. – Diz Agostinho: Toda a vida de Cristo na terra, onde, por amor do homem, se lhe revestiu da natureza, foi uma escola de disciplina moral. Ora, foi sobretudo a sua humildade, que ele nos exortou a imitar, quando disse: aprendei de mim, manso e humilde de coração. E Gregório nos adverte, que o argumento da nossa redenção descobriu–o Deus na sua humildade. Logo, parece a humildade a máxima das virtudes.

Mas, em contrário, a caridade tem preferência sobre todas as virtudes, segundo o Apóstolo: Sobre tudo isto revesti–vos de caridade. Logo, não é a humildade a máxima das virtudes.

SOLUÇÃO. – O bem da virtude humana está na ordem da razão. – Ora, essa ordem sobretudo se funda no fim. Por onde, as virtudes teologais, cujo objeto é o fim último, são as mais principais. – Mas, em segundo lugar, na ordem da sua dependência do fim, vêm os meios conducentes a esse fim último. Ora, essa ordem essencialmente consiste na razão ordenadora mesmo; e, participativamente, no apetite ordenado pela razão. E essa ordenação, em universal é obra da justiça, sobretudo da legal. Ora, a humildade, em universal, é a que nos torna sujeitos, como convém, à ordenação; ao passo que qualquer outra virtude o faz em relação a uma especial matéria. E portanto, depois das virtudes teologais e das intelectuais relativas à razão mesma; e depois da justiça, sobretudo da legal, vem a humildade, mais elevada que as outras virtudes.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A humildade não tem preferência sobre a justiça, mas sobre a justiça acompanhada da soberba, que já por isso deixa de ser virtude. Como, ao contrário, o pecado é perdoado por causa da humildade; assim, o Evangelho diz, que o publicano pelos méritos da sua humildade, voltou justificado para a sua casa. Donde o dizer Crisóstomo: Prepara–me duas bigas – uma da soberba e da justiça e a outra, do pecado e da humildade e verás o pecado subverter a justiça e vencer, não pelas suas próprias forças mas pelas da humildade; e verás o outro par vencido, não pela fragilidade da justiça, mas pela mole da soberba entumecida.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Assim como a reunião ordenada das virtudes é comparada, por uma certa semelhança, com um edifício; assim também, o que é primário na aquisição das virtudes é comparado aos fundamentos, que primeiramente se lançam ao edifício. Ora, as virtudes são verdadeiramente infundidas por Deus. Por onde, o que é primário na aquisição delas, pode ser entendido em duplo sentido. – Primeiro como o que remove os obstáculos. E então o primeiro lugar é o da humildade, pois expulsa a soberba, a que Deus resiste, e nos torna submissos e sempre dispostos a receber o auxilio da graça, por eliminar a inflação da soberba. Por isso, diz a Escritura: Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes. E neste sentido a humildade é considerada o fundamento do edifício espiritual. – De outro modo o que é primário, na aquisição das virtudes, o é diretamente, e é o que nos aproxima de Deus. Ora, nós nos aproximamos de Deus, primeiro, pela fé, segundo o Apóstolo: É necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus. E então a fé é considerada, de modo mais nobre que a humildade, como fundamento.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Aos que desprezam os bens terrestres são prometidos os celestes, assim como aos que desprezam as riquezas terrenas são prometidos os tesouros do céu, conforme o Evangelho: Não queirais entesourar para vós tesouros na terra, mas entesourai para nós tesouros no céu. E semelhantemente, aos que desprezam as alegrias do mundo são prometidas consolações celestes: Bem–aventurados os que choram porque serão consolados. Do mesmo modo, á humildade é prometida a exaltação espiritual, não que só ela a mereça, mas, por lhe ser próprio desprezar as elevações terrestres. Por isso, diz Agostinho: Não penses que quem se humilha fique sempre abatido; pois, foi dito será exaltado. Nem julgues tratar–se de uma elevação temporal, aos olhos dos homens.

RESPOSTA À QUARTA. – Cristo nos recomendou a humildade sobretudo porque ela é a que remove o impedimento à nossa salvação. Esta consiste em buscarmos os bens celestes e espirituais, de que ficamos privados se procuramos glórias terrenas. Por isso o Senhor, para nos afastar esse obstáculo à nossa salvação, deu–nos, pela humildade, o exemplo, para desprezarmos a exaltação temporal. Assim que a humildade é uma como disposição que nos aproxima dos bens espirituais e divinos. Como, pois, a perfeição se fortifica pela disposição, assim também a caridade e as outras virtudes, que nos movem diretamente para Deus, tornam–se mais fortes pela humildade.

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