O quarto discute–se assim. – Parece que a humildade não faz parte da modéstia nem da temperança.
1. – Pois, a humildade visa principalmente a reverência com que honramos a Deus, como se disse. Ora, virtude teologal é a que tem Deus por objeto. Logo, a humildade, antes, deve ser considerada uma virtude teologal do que parte da temperança ou da modéstia.
2. Demais. – A temperança tem seu sujeito no concupiscível; ora, a humildade parece que o tem no irascível, como a soberba, que se lhe opõe, cujo objeto é difícil de ser obtido. Logo, parece que a humildade não faz parte da temperança nem da modéstia.
3. Demais. – A humildade e a magnanimidade tem o mesmo objeto, como do sobredito resulta. Ora, a magnanimidade não é considerada parte da temperança, mas antes, da fortaleza, como se estabeleceu. Logo, parece que a humildade não faz parte da temperança nem da modéstia.
Mas, em contrário, diz Orígenes: Se quereis conhecer o nome desta virtude e como os filósofos a denominam, sabei que é a humildade, querida de Deus, chamada por eles metriotes, isto é, medida ou moderação; a qual manifestamente se inclui na modéstia ou temperança. Logo, a humildade faz parte da modéstia ou da temperança.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, quando se determinam as partes das virtudes sobretudo se leva em conta a semelhança, fundada no modo de cada uma. Ora, o modo da temperança, e que sobretudo a torna meritória, consiste em refrear ou reprimir os ímpetos de uma determinada paixão. Por onde, todas as virtudes, que refreiam ou reprimem os ímpetos de certos afetos ou moderam os atos, consideram–se partes da temperança. Ora, assim como a mansidão reprime o movimento da ira, assim a humildade, o da esperança que é um movimento do espírito tendente à prática de grandes atos. Por onde, assim como a mansidão é considerada parte da temperança, assim também a humildade. Por isso, o Filósofo, ao que pratica atos de pequena importância, ao seu modo, chama, não magnânimo, mas, tem perante, o que nós podemos traduzir por humilde. E, entre as outras partes da temperança, pela razão já dada, está contida na modéstia, no sentido em que a entende Túlio, isto é, não sendo a humildade senão uma certa moderação do espírito. Donde o dizer a Escritura: Na incorruptibilidade dum espírito pacífico e modesto.
DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As virtudes teologais, visando o fim último, que exerce o papel de primeiro princípio na ordem prática, são as causas de todas as outras virtudes. Por onde, o ser a humildade causada pela reverência que prestamos a Deus, não exclui seja ela parte da modéstia ou da temperança.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Dizemos terem partes as virtudes principais, não por terem um mesmo sujeito ou matéria idêntica. mas por convirem no mesmo modo formal, como estabelecemos. Por onde, embora a humildade tenha no irascível o seu sujeito, contudo é considerada, pelo seu modo, parte da modéstia e da temperança.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Embora a magnanimidade e a humildade tenham idêntica matéria, diferem contudo pelo modo: em razão do que a magnanimidade é considerada parte da fortaleza ao passo que a humildade o é, da temperança.