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Art. 3 – Se toda ira é pecado mortal.

O terceiro discute–se assim. – Parece que toda ira é pecado mortal.

1. – Pois, diz a Escritura: A ira mata o fátuo, referindo–se à morte espiritual, donde o pecado tira a sua denominação de mortal. Logo, toda ira é pecado mortal.

2. Demais. – Só o pecado mortal merece a condenação eterna. Ora, a ira merece a condenação eterna: assim, diz o Senhor: Todo o que se ira contra seu irmão será réu no juízo. Ao que diz a Glosa, que essas três coisas a que o texto se refere, a saber, o juízo, o conselho e a geena – exprimem as diversas moradas em que são punidos os diversos gêneros de pecado na condenação eterna. Logo, a ira é pecado mortal.

3. Demais. – Tudo o que contraria a caridade, como claramente o diz Jerônimo comentando aquilo do Evangelho: Quem se ira r contra seu irmão, etc., onde ensina ser este procedimento contrário ao amor do próximo. Logo, a ira é pecado mortal.

Mas, em contrário, àquilo da Escritura – Ira–vos e não queirais pecar – diz a Glosa: É venial a ira que não produz o seu efeito.

SOLUCÃO. – Os movimentos da ira podem ser desordenados e constituir pecado, de dois modos, como dissemos. – Primeiro, quanto ao que é desejado; assim quando se deseja uma vindicta injusta. E então a ira é genericamente pecado mortal, por contrariar à caridade e à justiça. Pode dar–se porém que esse desejo seja pecado venial pela imperfeição do ato. Imperfeição essa proveniente de quem deseja, como quando alguém deseja uma vindicta pequena a ponto de ser considerada nula, de modo que, mesmo se se efetuasse, não seria pecado mortal; tal o caso de quem tirasse um pouco um menor pelos cabelos, ou causa semelhante. – De outro modo, os movimentos da ira podem ser desordenados, quanto ao modo por que nos iramos; assim, se interiormente nos iramos em demasia, ou se manifestássemos a ira por sinais demasiado exteriores. Por onde, a ira, em si mesma, não é genericamente pecado mortal; assim, se, por veemente ira, faltamos ao amor de Deus e do próximo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Do lugar citado não se conclui que toda ira seja pecado mortal; mas, que os estultos, por iracúndia, morrem espiritualmente, por caírem em certos pecados mortais; como a blasfémia contra Deus ou a injúria contra o próximo, por não refrearem pela razão os movimentos da ira.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O Senhor aplicou as palavras citadas à ira, como que as acrescentando aquelas palavras da Lei: Quem matar será réu do juízo. Por isso, no lugar aduzido, o Senhor se refere aos movimentos da ira pelos quais desejamos a morte ou qualquer ferimento grave do próximo; e esse desejo, se se lhe acrescentar o consentimento da razão, será sem dúvida pecado mortal.

RESPOSTA À TERCEIRA. – No caso de contrariar a caridade, a ira é pecado mortal; mas tal nem sempre se dá, como do sobredito resulta.

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