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Art. 7 – Se a temperança é uma virtude cardeal.

O sétimo discute–se assim. – Parece que a temperança não é uma virtude cardeal.

1. – Pois, o bem da virtude moral depende da razão. Ora, a temperança versa sobre o que mais dista da razão, a saber, os prazeres que nos são comuns com os brutos, como diz Aristóteles. Logo, a temperança não parece uma virtude principal.

2. Demais. – Tanto maior é um ímpeto e tanto mais difícil é de ser refreado. Ora, a ira, refreada pela mansidão, parece mais impetuosa que a concupiscência, refreada pela temperança. Pois, diz a Escritura: A ira não tem misericórdia, nem o furor, que rompe; mas, quem poderá suportar o ímpeto de um homem concitado? Logo, a mansidão é virtude mais principal que a temperança.

3. Demais. – A esperança é um movimento da alma, mais principal que o desejo e a concupiscência, como se estabeleceu. Ora, a humildade refreia a presunção de uma esperança imoderada. Logo, a humildade parece uma virtude mais principal que a temperança, que refreia a concupiscência.

Mas, em contrário, Gregório coloca a temperança entre as virtudes principais.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, chama–se virtude principal ou cardeal a que é mais principalmente louvada, por alguma das condições que a virtude, por natureza, comumente exige. Ora, a moderação, que rodas as virtudes exigem, é sobretudo louvável quando concerne aos prazeres do tato, regulados pela temperança. Quer por nos serem esses prazeres mais naturais e, portanto, mais difícil de nos abstermos deles é refrear a concupiscência dos mesmos; quer também porque tem por objeto o que nos é mais necessário à vida presente, como do sobredito resulta. Por onde, a temperança é considerada uma virtude principal ou  cardeal.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ A virtude de um agente se manifesta tanto maior quanto mais pode atingir o que mais distante está dele. Ora, isto mesmo indica ser maior a virtude da razão, por poder moderar as concupiscências e os prazeres, ainda os mais distantes; O que constitui a principalidade da temperança.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O ímpeto da ira é causado por um determinado acidente, por exemplo, por uma ofensa que nos revolta; por isso rapidamente passa, embora seja grande. Ao passo que o ímpeto da concupiscência dos prazeres do tato procede de uma causa natural; por isso, é mais diuturno e mais geral. Por onde, refreá–lo pertence a uma virtude mais principal.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os bens que busca a esperança são mais elevados que os buscados pela concupiscência; por isso, a esperança é considerada uma virtude principal do irascível. Mas, o que tem em vista a concupiscência e o prazer do tato move mais veementemente o apetite, por ser mais natural. Por isso a temperança que introduz a moderação nessa matéria, é uma virtude principal.

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