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Art. 3 – Se a temperança somente versa sobre as concupiscências e os prazeres.

O terceiro discute–se assim. – Parece que a temperança não versa somente sobre as concupiscências e os prazeres.

1. – Pois, como diz Túlio, a temperança é o domínio da razão, firme e moderado, sobre a concupiscência e outros movimentos não retos da alma. Ora, todas as paixões da alma são movimentos dela. Logo, parece que não somente sobre as concupiscências e os prazeres versa a temperança.

2. Demais. – A virtude versa sobre o bem difícil. Ora, parece mais difícil moderar o temor; sobretudo quando o perigo é de morte, do que as concupiscências e os prazeres, que os sofrimentos e os perigos mortais nos levam a desprezar, como diz Agostinho. Logo, parece que a virtude da temperança não versa precipuamente sobre as concupiscências e os prazeres.

3. Demais. – A temperança pertence a graça da moderação, como diz Ambrósio. E Túlio afirma, que à temperança é próprio acalmar todas as perturbações da alma e dar medida às causas. Ora, é necessário estabelecer uma medida não só para as concupiscências e os deleites, mas também para os atos exteriores e tudo o que é exterior. Logo, a temperança não versa somente sobre as concupiscências e os prazeres.

Mas, em contrário, Isidoro diz, pela temperança é retreada a paixão e a concupiscência.

SOLUÇÃO. – Como se disse, pertence à virtude moral conservar o bem da razão contra o ataque das paixões. Ora, as paixões da alma têm um duplo movimento, como já dissemos ao tratar delas. Por um, o apetite sensitivo busca os bens sensíveis e corpóreos; por outro, foge dos males sensíveis e corpóreos.

Ora, o primeiro movimento do apetite sensitivo repugna à razão, pela intemperança.

Pois, os bens sensíveis e corporais, especificamente considerados, não repugnam à razão; mas antes, servem–lhe como de instrumentos de que a razão usa para conseguir o seu fim próprio. Mas, repugnam–lhe sobretudo quando o apetite sensitivo os busca fora da regra racional. Por onde, à virtude moral pertence propriamente moderar essas paixões, que implicam a prossecução do bem.

Quanto ao movimento do apetite sensitivo, pelo qual este foge aos males sensíveis, ele sobretudo contraria à razão, não pela sua falta de moderação, mas principalmente pelo seu efeito; pois, quem foge dos males sensíveis e corpóreos, que às vezes acompanham o bem da razão, abandona–o por isso mesmo a este. Por onde, é próprio à virtude moral, em tal matéria, dar firmeza ao bem racional.

Ora, à virtude da coragem é próprio dar–nos força e respeita principalmente à paixão, que nos faz fugir dos males corpóreos, isto é, o temor; e, por consequência, diz respeito à audácia, que nos leva a atacar o que nos causa terror, pela esperança de obter um certo bem. Assim também a temperança, que importa uma certa moderação, versa principalmente sobre as paixões tendentes aos bens sensíveis, a saber, a concupiscência e a deleitação; e, consequentemente, sobre as tristezas provenientes da ausência desses bens. Pois, assim como a audácia pressupõe males, que nos aterram, assim, a tristeza referida provém da ausência dos referidos prazeres.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ Como dissemos, quando tratámos das paixões, as que implicam a fuga do mal pressupõem as que importam a busca do bem; e as paixões do irascível pressupõem as do concupíscivel. E assim, a temperança, modificando diretamente as paixões do concupíscível, tendentes para o bem, modificam, por uma certa consequência, todas as outras paixões, porque, da moderação das primeiras resulta a das segundas. Pois, quem não se entrega à concupiscência imoderada há de, consequentemente, esperar com moderação e, com moderação entristecer–se com a ausência dos bens concupiscíveis.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A concupiscência implica uma certa busca impetuosa do prazer, por parte do apetite; essa busca deve ser refreada, e tal é o papel da temperança. Ao passo que o temor implica num certo retrair–se da alma, de certos males; e para isso o homem precisa da firmeza de ânimo, a qual lhe fornece a coragem. Por onde, a temperança versa propriamente sobre as concupiscências e a coragem, sobre os temores.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os atos exteriores procedem das paixões interiores da alma. Por isso, a moderação delas depende da moderação dessas paixões interiores.

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