O segundo discute–se assim. – Parece que a paciência e a mais principal das virtudes.
1. – Pois, o que é perfeito é, no seu género, o mais principal. Ora, a paciência é perfeita nas suas obras como diz a Escritura. Logo, é a principalíssima das virtudes.
2. Demais. – Todas as virtudes se nos ordenam ao bem da alma. Ora, isto principalmente é próprio da paciência, segundo o Evangelho: Na vossa paciência possuireis as vossas almas. Logo, a paciência é a máxima das virtudes.
3. Demais. – O que conserva e causa outras coisas é mais principal que elas. Ora, como diz Gregório, a paciência é a raiz e a guarda de todas as virtudes. Logo, a paciência é a máxima das virtudes.
Mas, em contrário, não é enumerada entre as quatro virtudes a que Gregório e Agostinho chamam principais.
SOLUÇÃO. – As virtudes por natureza ordenam–se para o bem. Pois, ela torna bom quem a possui e boas as suas obras. Portanto, tanto mais principal e importante será uma virtude quanto mais diretamente se ordenar para o bem do homem. Ora, as virtudes que levam à prática do bem se lhe ordenam ao bem mais diretamente, do que as que arredam os obstáculos à essa prática. E assim como, dentre as que nos levam a fazer o bem, mais importantes são as que nos confirmam num maior bem – como a fé, a esperança e a caridade, mais importantes que a prudência e a justiça – assim, dentre as que arredam os obstáculos prática do bem, tanto mais importante será a virtude quanto maior for o obstáculo à essa prática, que ela eliminar. Ora, os perigos de morte – objeto da coragem, e os prazeres sensíveis – objeto da temperança, mais nos afastam do bem, do que qualquer adversidade suportada pela paciência. Portanto, a paciência não é a principalíssima das virtudes; mas é inferior, não só às virtudes teologais, à prudência e à justiça, que diretamente nos firmam no bem mas também à fortaleza e à temperança, que nos arredam maiores obstáculos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Diz–se que a paciência é perfeita nas suas obras, tolerando as adversidades. Das quais resulta: primeiro, a tristeza, moderada pela paciência; segundo, a ira, moderada pela mansidão; terceiro, o ódio, eliminado pela caridade; quarto, o dano injusto, proibido pela justiça. Ora, eliminar o princípio de uma determinada ação é um ato mais perfeito. Mas não se segue que, de ser em tais casos a paciência mais perfeita, o seja, absolutamente considerada.
RESPOSTA À SEGUNDA. – A posse importa num domínio pacífico. Por isso, dissemos que, pela paciência, o homem possui a sua alma, porque elimina pela raiz o sofrimento das adversidades, que lha inquietam.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Diz–se que a paciência é a raiz e a guarda de todas as virtudes, não por causar e conservar diretamente, mas somente por suprimir os obstáculos.