O primeiro discute–se assim. – Parece que a paciência não é uma virtude.
1. – Pois, as virtudes serão perfeitíssimas na pátria, como diz Agostinho. Ora, lá não haverá paciência, porque não temos então nenhuns males a suportar, segundo aquilo da Escritura: Não padecerão tome nem terão sede e não os molestará a calma nem o sol. Logo, a paciência não é uma virtude.
2. Demais. – Nenhuma virtude podemos encontrar nos maus, porque é ela a causa da bondade de quem a possui. Ora, às vezes encontra–se a paciência nos maus; talo caso dos avarentos, sofredores de muitos males, para o fim de acumularem dinheiro, segundo aquilo da Escritura: Todos os dias da sua vida comem às escuras e com muitos cuidados, e em miséria e tristeza. Logo, a paciência não é uma virtude.
3. Demais. – Os frutos diferem das virtudes, como se estabeleceu. Ora, a paciência é considerada um fruto, segundo o Apóstolo. Logo, a paciência não é uma virtude.
Mas, em contrário, diz Agostinho: A virtude da alma chamada paciência é tão grande dom de Deus, que proclamamos a paciência mesmo daquele que no–la–dá.
SOLUÇÃO. – Como dissemos, as virtudes morais se ordenam para o bem, porque conservam o bem da razão contra– o ímpeto das paixões. Ora, dentre as outras paixões, a tristeza tem eficácia para nos privar do bem da razão, segundo o Apóstolo: A tristeza do século produz a morte. E noutro lugar diz a Escritura: A tristeza tem morto a muitos e não há utilidade nela. Por onde, é necessário haver uma virtude conservadora do bem da razão, contra a tristeza, para que aquela não sucumba sob a influência desta. Ora, talo resultado da paciência. Por isso, diz Agostinho, que a paciência humana é a que nos faz tolerar os males com equanimidade, isto é, sem cedermos às perturbações da tristeza, afim de, com mau ânimo, não abandonarmos os bens que nos conduzirão a outros melhores. Por onde é manifesto que a paciência é uma virtude.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – As virtudes morais não terão, na pátria, a mesma atualidade que têm nesta vida; isto é, não dirão respeito aos bens da vida presente, que não subsistirão na pátria; mas ao fim próprio desta. – Assim como na pátria, a justiça terá por fim fazer–nos submisso a Deus, e não regular os nossos atos em assunto de compra, venda, e outras matérias próprias desta vida. Semelhantemente, o ato de paciência, na pátria, não consistirá em fazer–nos suportar seja o que for; mas, no gozo dos bens a que queríamos chegar quando sofríamos. Por isso, Agostinho diz: Na pátria, não haverá paciência, em si mesma considerada, a qual só é necessário, quando há males que devemos suportar; pois, eterno será o bem a que nos conduzirá ela.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Diz Agostinho: Pacientes propriamente se chamam os que preferem. sofrer o mal, sem o cometer, e não os que preferem cometê–los para os não sofrer. Quanto aos que sofrem males. para os fazer, não lhes devemos admirar nem louvar a paciência, que é nenhuma; antes, admirando–lhes a dureza devemos–lhes negar a paciência.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Como dissemos, o fruto importa por natureza um certo prazer. Pois, as obras virtuosas são em si mesmas deleitáveis, como diz Aristóteles. Ora, é habitual designar com o nome de virtude também os atos virtuosos. Por isso a paciência, como hábito, é considerada uma virtude; mas é considerado um fruto se levamos em conta o prazer que lhe acompanha o ato. E, sobretudo se considerarmos que pela paciência a nossa alma se livra de sucumbir à tristeza.