O segundo discute–se assim. – Parece que a magnificência não é uma virtude especial.
1. – Pois, parece próprio da magnificência praticar atos grandiosos: Ora, fazer tais atos pode ser próprio de qualquer virtude, desde que seja grande; assim, quem tem grande virtude de temperança pratica grandes obras, nessa virtude. Logo, a magnificência não é uma virtude especial, mas exprime o estado perfeito de cada virtude.
2. Demais. – Parece próprio de um mesmo agente produzir um efeito e tender para ele. Ora, tender para o que é grande é próprio da magnanimidade, como se disse. Logo, também dela é próprio praticar grandes atos. Portanto, a magnificência não é uma virtude distinta da magnanimidade.
3. Demais. – A magnificência parece própria da santidade; assim, diz a Escritura: Magnifico em santidade; e noutro lugar: santidade e grandeza no seu santuário. Ora, a santidade é o mesmo que a religião, como se estabeleceu. Logo, a magnificência, segundo parece, é o mesmo que a religião. Portanto, não é uma virtude especial distinta das outras.
Mas, em contrário, o Filósofo a enumera entre as outras virtudes especiais.
SOLUÇÃO. – Como o próprio nome o indica, é próprio da magnificência fazer atos grandiosos. Ora, fazer é palavra susceptível de duplo sentido: um, próprio; outro, comum. Propriamente, fazer é praticar um ato transitivo para a matéria exterior; assim, fazer uma casa ou coisas semelhantes. Em sentido comum, porém, fazer significar qualquer ação transitiva para a matéria exterior – como queimar e cortar ou imanente no próprio agente, como inteligir e querer. Se, pois, considerarmos a magnificência enquanto implica em fazermos algum ato grandioso, sendo fazer tomado no seu sentido próprio, então é uma virtude especial. Pois, uma obra factível é produzida pela arte. E no uso desta podemos considerar um aspecto especial de bondade, a saber – que seja grandiosa a obra mesma feita pela arte, e isso, quantitativamente ou pela sua preciosidade e dignidade, o que constitui a magnificência. E, a esta luz, a magnificência é uma virtude. – Se, porém o nome de magnificência é usado no sentido de fazer atos grandiosos, tomado o verbo fazer em sentido comum, nesse caso, ela não é uma virtude especial.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A toda virtude perfeita é próprio fazer grandes atos, no seu género, tomando–se fazer em sentido comum; mas, não em sentido próprio, o que seria próprio da magnificência.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Ao magnânimo pertence não só visar a prática de atos grandiosos, mas também fazer grandes obras no atinente a todas as virtudes, produzindo–as ou agindo de qualquer modo, como diz Aristóteles. Contanto que leve em conta, assim procedendo, só a ideia de grandeza; ao passo que pelas outras virtudes, se forem perfeitas, praticamos grandes obras, não dirigindo principalmente a nossa intenção para a grandeza delas, mas ao que é próprio a cada uma delas. Ora, a grandeza resulta da quantidade da virtude. Por onde, ao magnífico pertence não só fazer o que é grande, tomado fazer no seu próprio, mas ainda atender, na sua alma, à prática das grandes obras. Por isso diz Túlio, que magnificência consiste em cogitar nas coisas grandes e elevadas e em dirigi–las com uma certa grandeza de alma, tendo em vista um fim e a realizar; referindo–se cogitar à intenção interior; e a realização à execução exterior. Por onde e necessariamente, assim como a magnanimidade busca o que é grande, em qualquer matéria, a magnificência o busca em relação a uma determinada produção.
RESPOSTA À TERCEIRA. – A magnificência visa a prática de grandes obras. Ora, as obras feitas pelo homem se ordenam a algum fim determinado. E, nenhum fim das obras humanas é tão grande como a honra de Deus. Por onde, a magnificência faz grandes obras tendo em vista principalmente a honra de Deus. Por isso diz o Filósofo, que as despesas honrosas são as que sobretudo tem por fim os sacrifícios divinos; fim a que principalmente visa o magnífico. Por isso, a magnificência anda ligada com a santidade, ordenando–se precipuamente o seu efeito à religião ou à santidade.