O sexto discute–se assim. – Parece que a religião não deve ser preferida às outras virtudes morais.
1. – Pois, a perfeição da virtude moral consiste em atingir o meio termo, como está claro no Filósofo. Ora, a religião não consegue atingir o meio termo da justiça, porque não retribui a Deus com igualdade absoluta. Logo, a religião não tem preferência sobre as outras virtudes morais.
2. Demais. – O que fazemos aos homens é tanto mais louvável quanto mais eles estiverem disso necessitados. Daí o dito· da Escritura: Parte o teu pão a quem tem fome. Ora, Deus não precisa que lhe façamos nada, conforme aquilo da Escritura: Eu disse: Tu és o meu Deus, porque não tens necessidade dos meus bens. Logo, parece que a religião é menos louvável que as outras virtudes que nos levam a auxiliar os homens.
3. Demais, – Quanto maior for a obrigação com que fizermos uma cousa, tanto menos louvável ela será, conforme aquilo do Apóstolo: Se prego o Evangelho, não tenho de que gloriar–me; pois nu é imposta essa obrigação. Ora, onde há maior dever há também maior obrigação. E, o que o homem faz para Deus, sendo–lhe devido em máximo grau, parece que a religião é a menos louvável das virtudes humanas.
Mas, em contrário, a Escritura coloca em primeiro lugar os preceitos pertinentes à religião, como os principais. Ora, a ordem dos preceitos é proporcional à das virtudes, porque os preceitos da lei são feitos para regular os atos das virtudes.
SOLUÇÃO. – Os meios tiram a sua bondade do fim a que se ordenam; portanto, quanto mais conducentes ao fim, tanto melhores. Ora, os objetos das virtudes morais, como dissemos se ordenam para Deus. como para o fim. E como a religião se lhe ordena mais proximamente do que as outras virtudes morais, porque obram o que direta e imediatamente se refere à honra divina, resulta que tem preeminência sobre as outras virtudes morais.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O valor da virtude se funda na vontade e não no poder. Por onde, não atingir a. igualdade, que é o meio termo da justiça, por falta de intensidade, não diminui o valor da virtude, se não houver deficiência por parte da vontade.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O serviço que prestamos em utilidade de outrem é tanto mais louvável quanto mais esse outrem é necessitado, porque é mais útil. Ora, a Deus não fazemos nada que lhe redunde em utilidade; mas lh'o fazemos para a sua glória e a nossa utilidade.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Onde há obrigação desaparece o mérito da superrogaçâo, mas não fica excluído o da virtude, se houve colaboração da vontade. E, por isso a objeção não colhe.