O terceiro discute–se assim. – Parece que a oblação do sacrifício não, é um ato especial de virtude.
1. – Pois, diz Agostinho: São verdadeiros sacrifícios todas as obras que praticamos para nos unirmos a Deus, numa união santa. Ora, nem toda boa obra é ato especial de alguma virtude determinada. Logo, a oblação do sacrifício não é ato especial de nenhuma virtude determinada. Logo a oblação do sacrifício não é ato especial de nenhuma virtude determinada.
2. Demais. – A abstinência consiste em macerarmos o corpo pelo jejum; a castidade, pela continência; e pelo martírio, a fortaleza. O que tudo parece compreender–se na oblação do sacrifício, conforme ao Apóstolo: Que ofereçais os vossos corpos como uma hóstia viva. E ainda: Não vos esqueçais de fazer bem; porque com tais oferendas é que Deus se dá por obrigado. Ora, a beneficência e a comunhão pertencem à caridade, à misericórdia e à liberalidade. Logo, a oblação de sacrifícios não é um ato especial de nenhuma virtude determinada.
3. Demais. – Parece que o sacrifício é oferecido a Deus. Ora, muitas outras coisas há que lhe oferecemos como a devoção, a oração, os dizimes, as primícias, as oblações e os holocaustos. Logo, parece que o sacrifício não é ato especial de nenhuma determinada virtude.
Mas, em contrário, a Lei antiga estabeleceu certos preceitos especiais sobre os sacrifícios, como se vê no princípio do Levítico.
SOLUÇÃO. – Como estabelecemos, quando o ato de uma virtude se ordena ao fim de outra, a primeira participa, ele certo modo da espécie da segunda. Assim, ao furto, de quem o pratica para fornicar, transporta–se de certo modo a deformidade da fornicação; de maneira tal que se já por si mesmo o furto não fosse um pecado viria a sê–lo por se ordenar à fornicação. Por onde, o sacrifício é um certo ato especial digno de louvor porque é feito para reverenciar a Deus. Assim, quando damos esmolas do que é nosso, por amor de Deus, ou quando sujeitamos o corpo a alguma mortificação para reverenciar a Deus. E, a esta luz, também os atos das demais virtudes podem chamar–se sacrifícios. Mas, há certos que são louváveis só por serem praticados para reverenciar a Deus. E esses se chamam propriamente sacrifícios e pertencem à virtude de religião.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Já o querermos nos unir a Deus por urna união espiritual implica em lhe prestarmos reverência. Por onde, o ato de qualquer virtude assume a natureza de sacrifício por ser praticado com o fim de nos unirmos a Deus com santa união.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Tríplice é o bem do homem. – O primeiro é o da alma, que oferecemos a Deus pelo sacrifício interno da devoção, da oração e de atos internos semelhantes E este é o principal sacrifício. – O segundo e o bem do corpo, que a Deus oferecemos de certo modo, pelo martírio e pela abstinência ou continência. – O terceiro é o bem das coisas externas, o sacrifício das quais oferecemos a Deus: diretamente, quando de modo imediato o fazemos; e mediatamente quando as damos aos próximos por amor de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Os sacrifícios propriamente ditos implicam em alterarmos coisas oferecidas a Deus, como quando matamos os animais, rompemos o pão, comemo–lo e benzemo–lo. E o próprio nome o exprime; pois, sacrifício vem de fazermos com que alguma coisa seja sagrada. – Por outro lado, a oblação consiste diretamente em oferecermos uma causa a Deus sem fazermos nela nenhuma alteração; assim, diz–se que oferecemos dinheiro ou pães no altar, porque não os alteramos de modo nenhum. Quanto às primícias, elas são oblações porque se ofereciam a Deus; mas, não, sacrifícios porque nenhuma sagração se fazia nelas. – E por fim, os dízimos, propriamente falando, não são sacrifícios nem oblações porque são atribuídos, não imediatamente a Deus, mas aos ministros do culto divino.