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Art. 3 — Se as relações atribuídas a Deus real e mutuamente se distinguem.

(I Sent., dist. XXVI, q. 2, a. 2; De Pot., q. 2, a. 5, 6).
 
O terceiro discute-se assim. — Parece que real e mutuamente não se distinguem as relações atribuídas a Deus.
 
1. — Pois, coisas idênticas a uma terceira são idênticas entre si. Ora, toda relação existente em Deus é idêntica à divina essência. Logo, as relações reais mutuamente se não distinguem.
 
2. Demais. — Como a paternidade e a filiação se distinguem pelo que significam, da essência divina, assim também a bondade e a potência. Mas, por tal distinção, não há nenhuma diferença real entre a bondade e a potência divina. Logo, nem entre a paternidade e a filiação.
 
3. Demais. — Entre as relações divinas não há distinção real senão quanto à origem. Ora, não parece que uma relação nasça de outra. Logo, as relações não se distinguem realmente umas das outras.
 
Mas, em contrário, Boécio: Em Deus, a substância contém a unidade, a relação multiplica a Trindade1. Se, pois, as relações se não distinguissem, real e mutuamente, não haveria em Deus Trindade real, mas só racional; o que é erro sabeliano.
 
Solução. — Quando a uma coisa se atribui outra é necessário atribuir àquela tudo o que for da essência desta; p. ex., a quem se atribuir o ser humano há-se se lhe atribuir o racional. Pois, a essência da relação está em referir-se uma coisa a outra, pelo que uma se opõe relativamente à outra, como dissemos. Ora, em Deus havendo relação real, segundo dissemos2, há necessariamente oposição real. Ora, a oposição relativa inclui por natureza a distinção. Donde o haver necessariamente em Deus distinção real, não por certo quanto à realidade absoluta da essência que é suma unidade e simplicidade; mas, de natureza relativa.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — Segundo o Filósofo, o argumento segundo o qual coisas idênticas a uma terceira são idênticas entre si3, colhe em relação a coisas real e racionalmente idênticas, como túnica e vestuário. E por isso, no mesmo lugar diz, que embora seja o mesmo que o movimento tanto a ação como a paixão, contudo daí se não segue sejam idênticas; pois, a ação implica relação com o agente que causa o movimento do móvel; ao passo que a paixão supõe a receptividade. Do mesmo modo, embora a paternidade e a filiação se identifiquem, por natureza, com divina essência, contudo uma e outra, pelas suas noções próprias, implicam relações opostas. Por isso mutuamente se distinguem.
 
Resposta à segunda. — Potência e bondade não implicam, por essência, nenhuma oposição. Por isso a comparação não colhe.
 
Resposta à terceira. — Embora as relações propriamente falando, não nasçam nem procedam umas das outras, contudo consideram-se como opostas, no proceder uma realidade de outra.
 

  1. 1. De Trinit. c. 6.
  2. 2. Q. 28, a. 1.
  3. 3. III Physic., c. 3.
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