Skip to content

Art. 6 – Se devemos pedir a Deus, nas nossas orações, bens temporais.

O sexto discute–se assim. – Parece que não devemos pedir a Deus nas nossas orações bens temporais.

1. – Pois, buscamos o que pedimos nas nossas orações. Ora, não devemos buscar as causas temporais, conforme à Escritura: Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas se vos acrescentarão, isto é, os bens temporais, dos quais diz que não devemos buscar, mas se acrescentarão ao que buscamos.

2. Demais. – Ninguém pede senão aquilo de que tem solicitude. Ora, não elevemos ter solicitude com as coisas temporais, conforme o diz a Escritura: Não andeis cuidadosos da vossa vida, que comereis. Logo, não elevemos pedir bens temporais nas nossas orações.

3. Demais. – Pela oração a nossa mente deve elevar–se para Deus. Ora, pedindo os bens temporais, ela desce ao que lhe é inferior, contrariando assim o dito do Apóstolo: Não atendendo nós às causas que se vêem, mas sim às que não, se vêem; porque as causas visíveis são temporais, e as invisíveis são eternas. Logo, não devemos pedir a Deus nas nossas orações os bens temporais.

4. Demais. – Não devemos pedir a Deus senão o bem e o útil. Ora, às vezes, os bens temporais que possuímos, são nocivos, não só espiritualmente mas também temporalmente. Logo, não devemos pedi–los a Deus nas nossas orações.

Mas, em contrário, a Escritura: Dá–me somente o que for necessário para viver.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, é lícito pedir nas orações o que é licito desejar. Ora, é lícito desejar os bens temporais, não, por certo, principalmente, ele modo a constituirmos neles o nosso fim; mas, como uns adminículos, que nos ajudam a buscar a felicidade, isto é, sustentando com eles a vida do corpo e servindo–nos deles como de instrumentos para a prática da virtude, como também o diz o Filósofo. Por onde, podemos pedir nas nossas orações os bens temporais. E é o que ensina Agostinho: Quer razoavelmente os bens suficientes à vida quem não quer nuns do que eles; pois, não são desejáveis em si mesmos, mas, enquanto conservam a saúde do corpo e servem para mantermos o estado conveniente à nossa pessoa, de modo a não ser penosa para os outros a nossa convivência. Por onde, quando os temos, devemos orar para não os perdermos; e quando não os temos, para que os consigamos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Não devemos buscar os bens temporais como bens primários, mas, como secundários. Por isso explica Agostinho: Quando a Escritura diz ­ Devemos buscá–lo primeiro, isto é, o reino de Deus – que significar que devemos buscá–los, isto é, os bens temporais, em segundo lugar, não quanto ao tempo, mas, quanto à dignidade: o reino de Deus, como nosso bem; os bens temporais, como o que nos é necessário.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Não é qualquer solicitude com os bens temporais que é proibido, mas, a supérflua e desordenada, como já estabelecemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Quando a nossa alma busca os bens temporais, para descansar neles, fica deprimida por eles. Mas, quando os busca em ordem à consecução da felicidade, longe de a deprimirem, é ela quem os eleva para o alto.

RESPOSTA À QUARTA. – Desde que não pedimos os bens temporais como se puséssemos neles o nosso fim, mas, ordenadamente a outros bens, pedimos a Deus que nô–los conceda com a intenção de que sirvam à nossa salvação.

AdaptiveThemes