O quinto discute–se assim. – Parece que na oração não devemos pedir nada de determinado a Deus.
1. – Pois, como diz Damasceno, orar é pedir a Deus o que é conveniente. Por isso é ineficaz a oração em que pedimos o que não convém, conforme ao dito da Escritura: Pedis e não recebeis; e isto porque pedis mal. Ora, no dizer do Apóstolo, não sabemos o que havemos de pedir como convém. Logo, não devemos pedir nada de determinado em nossas orações.
2. Demais. – Quando pedimos a outrem uma coisa determinada, esforçamo–nos por inclinar–lhe a vontade a fazer o que queremos. Ora, não devemos pretender que Deus queira o que queremos; mas, antes, devemos querer o que Deus quer, como diz a Glosa aquilo da Escritura: Exultai, ó justos, no Senhor, Logo, não devemos pedir nada de determinado, a Deus, na oração.
3. Demais. Não devemos pedir o mal a Deus, pois, Ele nos convida ao bem. Ora, pedimos em vão a outrem o que este nos convida a aceitar. Logo, não devemos pedir nada de determinado, a Deus, na oração.
Mas, em contrário, O Senhor ensinou os discípulos a pedirem determinadamente as coisas nas petições da Oração Dominical.
SOLUÇÃO. – Como refere Valério Máximo, Sócrates julgava que não devíamos pedir aos deuses imortais senão que nos fizessem bem, porque, enfim, sabem o que a cada um nos é útil; ao passo que pedimos muitas vezes, com os nossos desejos, o que seria melhor não pedir. E essa opinião de certo modo é verdadeira, quanto ao que é susceptível de mau resultado, do que podemos usar mal e bem. Assim, as riquezas, que, como no mesmo lugar se diz, causaram a perdição de muitos; as honras, que arruinaram muitos; os reinos, cujos triunfos são muitas vezes considerados miseráveis; os esplêndidos casamentos que às vezes destroem totalmente as casas. Há, porém, bens de que o homem não pode usar mal, isto é, que não são susceptíveis de nenhum mau resultado. São os que nos tornam felizes e com os quais merecemos a felicidade. E que os santos nas suas orações pedem incondicionalmente, conforme aquilo da Escritura: Excita o teu poder e vem a fazer–nos salvos. E ainda: Guia–me pela vereda dos teus mandamentos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Embora por nós mesmos não saibamos o que devemos pedir, contudo, o Espírito, como na mesmo lugar se nota, ajuda–nos a fraqueza, fazendo–nos pedir o que é reto, pela inspiração em nós de santos desejos. Donde o dito do Senhor, que os verdadeiros adoradores devem adorar em espirito e verdade.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Quando, nas nossas orações, pedimos o necessário à salvação, conformamos a nossa vontade com a de Deus, da qual diz a Escritura, que quer que todos os homens se salvem.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Deus nos convida ao bem de modo que o busquemos, não com passos do corpo, mas, com pios desejos e orações devotas.