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Art. 7 – Se podem acontecer coisas fora da ordem do governo divino.

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O sétimo discute–se assim. Parece que podem acontecer coisas fora da ordem do governo divino.

1. – Pois, como diz Boécio, Deus dispõe tudo por meio do bem. Se portanto, nas coisas, nada acontecesse fora da ordem do governo divino, resultaria que nada nelas seria mau.

2. Demais. – Não é casual o que se realiza segundo a preordenação do governador. Se pois, nada acontece, nas coisas, fora da ordem do governo divino, resulta que, nelas, nada há de fortuito e casual.

3. Demais. – A ordem do governo divino é certa e imutável, porque se funda na razão eterna. Se pois, nas coisas, nada pode acontecer fora da ordem desse governo, resulta que tudo se realiza necessariamente e nada há, nelas, contingente, o que é inadmissível. Logo, podem–se dar coisas fora da ordem do governo divino.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Senhor, Senhor Rei Onipotente, porque no teu poder estão postas todas as coisas, e não há quem possa resistir à tua vontade.

SOLUÇÃO. – Pode um efeito resultar fora da ordem de uma causa particular; não, porém, fora da causa universal. E a razão é que, só por impedimento de alguma outra causa é que pode se dar alguma cousa fora da ordem de uma causa particular; e essa causa impediente há de necessariamente reduzir–se à causa primeira universal. Assim, uma indigestão se dá, fora da ordem da virtude nutritiva, por algum impedimento, por exemplo, de alimentos pesados, que hão de reduzir–se, necessariamente, a alguma outra causa, e assim até à causa primeira universal. Ora, como Deus é a causa primeira universal, não só de um gênero, mas da totalidade dos seres, é impossível que alguma cousa aconteça, fora da ordem do governo divino. Por onde, qualquer cousa que escape, de um lado, à ordem da divina providência, considerada essa ordem em relação a alguma causa particular, necessariamente há de entrar na sobredita ordem, por outra causa,

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Nada há no mundo que seja totalmente mau, porque o mal sempre se funda no bem, como antes se demonstrou. Por onde, diz–se má a cousa que escapa à ordem de algum bem particular. Se pois escapasse, totalmente à ordem do governo divino, reduzir–se–ia totalmente ao nada.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Chama–se casual, nas coisas, aquilo que escapa à ordem das causas particulares; mas, em relação à divina providência, nenhum acaso há no mundo, como diz Agostinho.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Alguns efeitos se chamam contingentes por comparação às causas próximas que, nos seus efeitos, podem ser deficientes. E não porque alguma cousa possa realizar–se escapando à ordem total do governo divino, porque o fato mesmo de alguma cousa se dar fora da ordem da causa próxima é em virtude de alguma causa sujeita ao governo divino.  

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