O quarto discute–se assim. – Parece que a imagem de Deus não está em qualquer homem.
1. Pois, diz a Escritura: O homem é a imagem de Deus, mas a mulher é a imagem do homem. Ora, como a mulher é indivíduo da espécie humana, não a qualquer indivíduo é próprio ser a imagem de Deus.
2. Demais. – A Escritura diz, que aqueles que Deus conheceu na sua presciência, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a estes também chamou. Ora, nem todos os homens são predestinados. Logo, nem todos têm a conformidade da imagem.
3. Demais. – A semelhança é da essência da imagem, como já se disse antes. Ora, pelo pecado o homem torna–se dissemelhante de Deus. Logo, perde a imagem de Deus.
Mas, em contrário, diz a Escritura: Certamente o homem passa como em imagem.
SOLUÇÃO. – Como se diz que o homem é a imagem de Deus, pela natureza intelectual, ele é a essa imagem no máximo grau, na medida em que, nesse mesmo grau, a natureza intelectual de Deus pode ser imitada. Ora, a natureza intelectual imita a Deus, em máximo grau, no ponto de vista em que Deus a si mesmo se intelige e ama. Por onde, a imagem de Deus pode ser considerada, no homem, a tríplice luz. Primeiro, enquanto o homem tem aptidão natural para inteligir e amar a Deus; e essa aptidão consiste em a natureza mesma da mente, comum a todos os homens. Depois, enquanto o homem, atual ou habitualmente, conhece e ama a Deus, embora imperfeitamente; e essa é a imagem por conformidade da graça. Terceiro, enquanto o homem conhece a Deus atualmente e perfeitamente o ama; e assim essa é a imagem por semelhança da glória. Por onde, a propósito do passo da Escritura – Gravado esta, Senhor, sobre nos o lume do teu rosto a Glossa distingue tríplice imagem: a da criação, a da segunda criação e a da semelhança. Ora, a primeira imagem está em todos os homens; a segunda, só nos justos; a terceira, porém, só nos bem–aventurados.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. Tanto no homem como na mulher está a imagem de Deus, quanto aquilo em que, principalmente, consiste a essência da imagem, a saber, a natureza intelectual. Por onde, depois de a Escritura ter dito – Deus o criou à sua imagem – isto é, o homem, acrescenta: macho e fêmea os criou. – E disse no plural, os como comenta Agostinho, para não se entender que, num só indivíduo estivessem reunidos ambos os sexos. Mas, num ponto de vista secundário, a imagem de Deus está no homem de um modo pelo qual não está na mulher. Pois aquele é o princípio e o fim desta, assim como Deus é o princípio e o fim de toda criatura. Por onde, depois de ter dito a Escritura, que o homem é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem, mostra–se porque tal se disse, ao acrescentar: Porque não foi feito o homem da mulher, mas a mulher do homem; e não foi criado o homem por causa da mulher, mas sim a mulher por causa do homem.
RESPOSTAS À SEGUNDA E TERCEIRA. – Essas objeções colhem quanto à imagem pela conformidade da graça e da glória.