O terceiro discute–se assim. – Parece que o anjo não é mais à imagem de Deus, que o homem.
1. Pois, diz Agostinho, que Deus a nenhuma outra criatura, a não ser ao homem, concedeu que fosse à sua imagem. Logo, não é verdade que o anjo seja mais à imagem de Deus, que o homem.
2. Demais. Segundo Agostinho: O homem é à imagem de Deus, de modo tal que, foi formado por Deus, sem a interposição de nenhuma criatura; por onde, nada está mais próximo de Deus que ele. Ora diz a imagem de Deus a criatura que d'Ele está próxima. Logo, o anjo não é mais a imagem de Deus que o homem,
3. Demais, – Diz–se que é à imagem de Deus a criatura de natureza intelectual. Ora, a natureza intelectual não padece intensão nem remissão; pois, pertencendo ao gênero da substância, não pertence ao do acidente. Logo, o anjo não é mais à imagem de Deus, que o homem.
Mas, em contrário, diz Gregório, que do anjo se diz que é o sinete da semelhança, porque, nele, a semelhança da divina imagem se manifesta mais expressivamente.
SOLUÇÃO. – A dupla luz podemos considerar a imagem de Deus, – Primeiro, quanto àquilo em que primariamente, se considera a essência da imagem, que é a natureza intelectual. E assim, a imagem de Deus está mais nos anjos do que nos homens; porque a natureza intelectual é mais perfeita neles, como do sobredito resulta, Segundo, pode–se considerar a imagem de Deus no homem, quanto àquilo no que ela é secundariamente, a saber, enquanto que, no homem, se encontra uma certa imitação de Deus. Pois o homem vem do homem, como Deus, de Deus; e a alma do homem está toda em todo o corpo e em qualquer parte do mesmo, como Deus, no mundo. E, segundo esta e outras semelhanças, a imagem de Deus está mais no homem, que no anjo. Mas, quanto a este ponto de vista só se considera a existência da divina imagem, no homem, pressupondo a primeira imitação, segundo a natureza intelectual; do contrário, também os brutos seriam à imagem de Deus. E portanto, como, no referente à natureza intelectual, o anjo é mais à imagem de Deus, que o homem, é forçoso conceder que ele é, absolutamente, mais à imagem de Deus; o homem, porém, de certo modo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Agostinho exclui da imagem de Deus, as outras criaturas inferiores, que carecem de intelecto; não, porém, os anjos.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Assim como se diz que o fogo é, especificamente, o mais subtil dos corpos, embora possa um fogo ser mais subtil que outro; assim se diz que nada é mais próximo de Deus, que a mente humana, no gênero da natureza intelectual. Pois, como dissera antes Agostinho, as criaturas inteligentes são de tal modo próximas de Deus, pela semelhança, que não há outras que mais que elas o sejam. Por onde, não exclui esse dito que o anjo seja mais à imagem de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Quando se diz que a substância não é susceptível de mais nem de menos, não se entende, por aí, que uma espécie de substância não seja mais perfeita que outra. Mas que um mesmo indivíduo não participa da sua substância, ora mais, ora menos; nem também a espécie da substância é participada, mais e menos, por diversos indivíduos.