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Art. 8 — Se em Cristo houve admiração.

O oitavo discute-se assim. — Parece que em Cristo não havia admiração.

1. — Pois, a admiração é causada de conhecermos um efeito e lhe ignorarmos a causa; e assim, admirar-se é próprio só do ignorante. Ora, em Cristo não houve ignorância, como se disse. Logo, em Cristo não houve admiração.

2. Demais. — Damasceno diz, que a admiração é o temor oriundo de uma grande imaginação; donde o dizer o Filósofo, que o magnânimo não é admirativo. Ora, Cristo foi magnânimo por excelência. Logo, em Cristo não houve admiração.

3. Demais. — Ninguém, se admira daquilo que pode fazer. Ora, Cristo podia fazer tudo quanto de grande havia na realidade. Logo, de nada podia admirar-se.

Mas, em contrário, o Evangelho: Ouvindo Jesus (as palavras do Centurião) admirou-se.

SOLUÇÃO. — A admiração nasce propriamente do que é novo e insólito. Ora, para a ciência divina de Cristo nada podia haver de novo nem de insólito; nem para a sua ciência humana, pela qual conhecia as causas no Verbo, ou as causas, pelas espécies infusas. Mas algo podia haver de novo e de insólito à sua ciência experimental, pela qual lhe podiam ocorrer todos os dias causas novas. Por onde, se nos referimos à sua ciência divina ou à da visão beatífica ou ainda à infusa, em Cristo não houve admiração: mas, se lias referimos à sua ciência experimental, então podia nele haver admiração. E assumiu esse sentimento, para a nossa instrução; isto é, para nos ensinar que devemos admirar o que também ele admirou. Donde o dizer Agostinho: Cristo nos advertiu que deviamos admirar o que também ele admirou, a nós que temos necessidades de tais movimentos. Logo, todos os seus movimentos como esses não eram sinais de perturbação de alma, mas exprimiam o magistério docente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Embora Cristo nada ignorasse, podia contudo ocorrer alguma novidade à sua ciência experimental, que lhe causasse admiração.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo não se admirava da fé do Centurião por ser grande relativamente a ele, mas pelo ser relativamente aos homens.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo podia fazer tudo pelo seu poder divino, que não deixava lugar nele à admiração; mas só era susceptível de admiração experimental, como dissemos.

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