(II Sent., dist. XXVII, a. 5; In Ioan., cap. X, lect. IV).
O oitavo discute-se assim. – Parece que o homem não pode merecer o aumento da graça ou da caridade.
1. – Pois, a quem já recebeu o premio merecido nenhuma outra recompensa é devida, como aqueles de quem diz a Escritura: Receberam a sua recompensa. Se pois pudéssemos merecer o aumento de caridade ou de graça, resultaria que, uma vez aumentada a graça, não poderíamos esperar mais nenhum premio, o que é inadmissível.
2. Demais. – Nenhum ser pode agir além dos limites de ação da sua espécie. Ora, o princípio do mérito é a graça ou a caridade, como do sobredito resulta. Logo, ninguém pode merecer graça ou caridade maior que a que tem.
3. Demais. – O que o homem pode merecer o merece por algum ato procedente da graça ou da caridade; assim como pode merecer a vida eterna por qualquer ato praticado nessas condições. Se pois, o aumento da graça ou da caridade pode ser merecido, resulta que merecemos esse aumento por qualquer ato informado pela caridade. Ora, o que merecemos, infalivelmente recebemos de Deus, se não sobrevier o obstáculo do pecado, conforme a Escritura: Sei a quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito para aquele dia. Donde se seguiria que, por qualquer ato meritório, a graça ou a caridade ficaria aumentada. Ora, isto é inadmissível porque às vezes esses atos meritórios não são praticados com muito fervor, de modo a bastarem para causar o aumento da caridade. Logo, o aumento da caridade não pode ser merecido.
Mas, em contrário, diz Agostinho: a caridade merece ser aumentada, para que, aumentada, mereça chegar à perfeição. Logo, o aumento da caridade ou da graça pode ser merecido.
SOLUÇÃO. – Como já dissemos, pode ser merecido condignamente aquilo a que se estende a moção da graça. Ora, a moção de um motor não se estende só ao último termo do movimento, mas também a todo o desenvolvimento progressivo dele. Ora, o termo do movimento da graça é a vida eterna. E o avanço progressivo desse movimento depende do aumento da caridade ou da graça, conforme aquilo da Escritura: A vereda dos justos, como luz que resplandece, vai adiante e cresce até o dia perfeito, que é o dia da glória. Logo, o aumento da graça pode ser merecido.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O premio é o termo do mérito. Ora, o movimento tem duplo termo: o último e o médio; que constitui ao mesmo tempo um princípio e um termo. A recompensa, consistente no aumento, é um termo desta espécie. Pelo contrário, a recompensa consistente no favor dos homens é como o último termo para os que o consideram como fim. Por isso, esses tais não receberão nenhuma outra recompensa.
RESPOSTA À SEGUNDA. – O aumento da graça não sobreleva o poder da graça preexistente, embora lhe sobrepuje a grandeza. Assim como uma árvore, de tamanho muito superior à da sua semente, não lhe excede, contudo, a virtude.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Por qualquer ato meritório o homem merece o aumento da graça, bem como a consumação dela, que é a vida eterna. Mas, como esta não é concedida imediatamente, mas em tempo oportuno, assim também a graça não aumenta imediatamente, mas no seu tempo, isto é, quando o sujeito estiver suficientemente disposto a lhe receber o aumento.