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Art. 4 – Se a graça é o princípio do mérito, mais pela caridade, do que pelas outras virtudes.

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 (III Sent., dist. XXX, a. 5; IV, dist. XLIX, q. 1, a. 4, qª 4; q. 5, a. 1; De Verit., q. 14, a. 5, ad 5; De Pot., q. 6, a. 9; Ad Rom., cap. VIII, lect. V; I Tim., cap, lect II; Ad Herb., cap. VI, lect III).


O quarto discute-se assim. – Parece que a graça não é princípio do mérito, mais pela caridade, do que pelas outras virtudes.

1. – Pois, a recompensa é devida à obra, conforme a Escritura: Chama os trabalhadores e paga-lhes o jornal. Ora, toda virtude, sendo um hábito operativo, é princípio de alguma obra, como já dissemos. Logo, todas as virtudes são igualmente princípio de mérito.

2. Demais. – O Apóstolo diz; Cada um receberá a sua recompensa particular segundo o seu trabalho. Ora, a caridade, antes diminui que aumenta o trabalho; pois, como diz Agostinho, tudo o que é duro e cruel o amor o torna fácil e quase o reduz a nada. Logo, a caridade não é, mais que as outras virtudes, o princípio do mérito.

3. Demais. – É o princípio primeiro do mérito a virtude, cujo atos são, por excelência, meritórios. Ora, mais meritórios são os atos de fé, de paciência ou de fortaleza, como bem o demonstraram os mártires que, pela fé, lutaram paciente e fortemente até a morte. Logo, as outras virtudes são, mais que a caridade, o princípio do mérito.

Mas, em contrário, diz o Senhor: Aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei também, e me manifestarei a ele. Ora, a vida eterna consiste no conhecimento claro de Deus, conforme a Escritura: A vida eterna consiste em que eles conheçam por um só verdadeiro Deus e vivo a ti. Logo, o mérito da vida eterna depende principalmente da caridade.

SOLUÇÃO. – Como podemos deduzir do que já foi dito, um ato humano é meritório por duas razões. Primeiro e principalmente, por ordenação divina, pela qual um ato se torna meritório do bem para o qual o homem é divinamente ordenado. Em segundo lugar, pelo livre arbítrio, que torna o homem capaz, diferentemente das outras criaturas, de agir por si mesmo, isto é, voluntariamente. E, em ambos os casos, o mérito depende principalmente da caridade. – Pois, devemos primeiro, considerar, que a vida eterna consiste no gozo de Deus.Ora, a moção da alma humana para gozar do bem divino é o ato próprio da caridade, pela qual todos os atos das outras virtudes, enquanto governadas pela caridade, se ordenam para tal fim. Por onde, o mérito da vida eterna pertence, primeiramente, à caridade e, secundariamente, às outras virtudes, enquanto a caridade lhes governa os atos. – Do mesmo modo, como é manifesto, o que fazemos por amor o fazemos de maneira soberanamente voluntária. Por onde, enquanto o mérito, por essência, exige o ato voluntário, deve ser atribuído principalmente à caridade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A caridade, tendo o fim último como objeto, move as outras virtudes a agirem. Pois, sempre, o hábito concernente ao fim governa os concernentes aos meios, como do sobredito se colhe.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Uma obra pode ser laboriosa e difícil, de dois modos. – Pela sua grandeza; e então a grandeza do trabalho acarreta o aumento do mérito. Por onde, a caridade não diminui o trabalho, antes, faz-nos empreender as maiores obras; pois, como diz Gregório, em certa homília, desde que ela existe, obra grandes coisas. – De outro modo, uma obra pode ser laboriosa e difícil por deficiência do seu autor; pois, o que fazemos sem vontade pronta é laborioso e difícil. E esse labor diminui o mérito, mas a caridade o elimina.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O ato de fé não é meritório, senão quando a fé obra com caridade, como diz a Escritura. – Semelhantemente, os atos de paciência e de fortaleza não são meritórios, se não os fizermos com caridade, conforme aquilo da Escritura: Se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disto me aproveita.

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