O oitavo discute-se assim. ─ Parece que da pena do purgatório não pode um livrar-se mais cedo que outro.
1. ─ Pois, quanto mais grave a culpa e o reato, tanto mais acerba será a pena imposta no purgatório. Ora, a proporção entre uma pena mais acerba e uma culpa mais grave é a mesma entre uma pena mais leve e uma culpa mais leve. Logo, ficará um livre ao mesmo tempo que outro.
2. Demais. ─ Méritos desiguais merecem retribuições desiguais na sua duração, tanto no céu como no inferno. Ora, parece que o mesmo deve dar-se no purgatório.
Mas, em contrário, a comparação do Apóstolo, que significou as diferenças entre os pecados veniais, pelas palavras ─ madeira, feno e palha. Ora, é um fato, que a madeira dura mais tempo no fogo que o feno e a palha. Logo, um pecado venial é punido mais longamente no purgatório, que outro.
SOLUÇÃO. ─ Certos pecados veniais aderem mais fortemente à alma que outros, na medida em que o afeto mais intensamente se inclina e mais fortemente se apega. E como os pecados que mais fortemente aderem são purgados num tempo mais longo, por isso certos são torturados no purgatório por mais tempo que outros, na medida em que o afeto mais imerso andou nos pecados veniais.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A acerbidade da pena propriamente responde à quantidade da culpa; ao passo que a diuturnidade corresponde à radicação da culpa no sujeito. Por onde, pode acontecer fique no purgatório mais tempo quem sofre menos, e inversamente.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O pecado mortal a que é devido o suplício do inferno, e a caridade a que é devido o prêmio do paraíso depois desta vida, ficam radicados imutavelmente no sujeito. Por isso, tem ambos a mesma duração, no inferno e no céu. Mas o mesmo não se dá com o pecado venial, punido no purgatório, como do sobredito se colhe.