O sétimo discute-se assim. ─ Parece que o fogo do purgatório não livra do reato da pena.
1. ─ Pois, toda purificação supõe uma impureza. Ora, a pena não implica nenhuma impureza. Logo, o fogo do purgatório não livra da pena.
2. Demais. ─ Um contrário não se purifica senão pelo seu contrário. Ora, pena não contria à pena. Logo, pela pena do purgatório não se purifica nenhum reato penal.
3. Demais. ─ Aquilo do Apóstolo ─ O tal será salvo, se bem, etc. ─ diz a Glosa: O fogo salvífico é a tentação da tribulação, da qual está escrito ─ o forno prova os vasos do oleiro, etc. Logo, expiamos todas as penas pelas deste mundo, ao menos pela morte, que é a maior de todas, e não pelo fogo do purgatório.
Mas, em contrário, a pena do purgatório é mais grave que qualquer pena deste mundo, como se disse. Ora, pela pena satisfatória, que sofrermos neste mundo, ficamos livres do débito penal. Logo, com muito maior razão, pelas penas do purgatório.
SOLUÇÃO. ─ Quem tem uma dívida só dela fica liberado pagando-a. E como o reato não é senão um débito penal, quem sofre a pena devida fica absolvido do reato. Assim a pena do purgatório purifica do reato.
DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O reato, embora em si mesmo não implique nenhuma impureza, contudo supre, na sua causa, alguma impureza.
RESPOSTA A SEGUNDA. ─ Embora uma pena não contrarie a outra, contudo contraria o reato penal; pois, é por não termos expiado a pena devida que ficamos obrigados a ela.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ As mesmas palavras da Sagrada Escritura são susceptíveis de muitos sentidos. Assim, esse fogo pode entender-se como sendo a tribulação presente e a pena subsequente. E por ambas podem ser delidos os pecados veniais. Mas já dissemos que a morte natural não basta para isso.