O primeiro discute-se assim. ─ Parece que os condenados no inferno são atormentados só pela pena do fogo.
1. ─ Pois, o Evangelho, quando se refere à condenação deles, faz menção só do fogo: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno.
2. Demais. ─ Assim como a pena do purgatório é a merecida pelo pecado venial, assim a do inferno é a merecida pelo pecado mortal. Ora, a Escritura não nos diz que haja no purgatório outra pena além da do fogo. Assim, aquilo do Apóstolo: Qual seja a obra de cada um o fogo o provará. Logo, também no inferno não haverá outra pena além da do fogo.
3. Demais. ─ A variedade das penas causa um certo refrigério ao sofrimento; assim como quando alguém é transferido do calor para o frio. Ora, nenhum refrigério haverá para os condenados. Logo, não haverá no inferno, penas diversas, mas só a do fogo.
Mas, em contrário, a Escritura: O fogo, o enxofre e as tempestades são a parte que lhes toca.
2. Demais. ─ Diz ainda a Escritura: Passará das águas da neve para um excessivo calor.
SOLUÇÃO. ─ Segundo Basílio, na última purificação do mundo, haverá a separação dos elementos: o que for puro e nobre permanecerá na região superior, para glória dos bem-aventurados; e tudo o que for ignóbil e grosseiro será precipitado no inferno para pena dos condenados. De modo que, assim como toda criatura será para os santos, matéria de alegria, assim todas concorrerão para aumentar o tormento dos condenados, segundo aquilo da Escritura: Todo o universo pelejará da parte dele contra os insensatos. ─ E também entra no plano da divina justiça que, assim como, abandonando o bem único, pelo pecado, constituíram o seu fim nas causas materiais, que são muitas e varias, assim também sejam atormentados de muitos modos e por muitas causas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O fogo, pela sua grande virtude ativa, é capaz de nos causar os maiores suplícios. Por isso serve o seu nome para designar sofrimentos veementes, quaisquer que sejam.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O fim principal das penas do purgatório não é atormentar, mas purificar. Por isso devem ser causadas só pelo fogo, cuja virtude é essencialmente purificadora. Ora, as penas dos condenados não se ordenam a purificá-las. Não há, pois, símile.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Os condenados passarão de um veementíssimo calor para um frio veementíssimo sem gozarem com isso de nenhum refrigério. Porque o sofrimento dos condenados, provocado por agentes externos, não será como o que causam em nós, alterando a disposição natural, que encontrou em nosso corpo, de modo a reduzi-la a um estado proporcionado de equilíbrio, procurando-nos assim um refrigério: Mas será por ação espiritual, pela qual os sensíveis atuam sobre os sentidos, fazendo-se sentir pela impressão no órgão das suas formas, no seu ser espiritual, e não no material.