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Art. 2 ─ Se Cristo no juízo aparecerá sob a forma da humanidade gloriosa.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que Cristo no juízo não aparecerá sob a forma da humanidade gloriosa.

1. ─ Pois, àquilo do Evangelho ─ Eles verão aquele a quem traspassaram, diz a Glosa: Porque virá com a mesma carne com que foi crucificado. Ora, foi crucificado numa forma abatida. Logo, com essa mesma forma aparecerá e não com forma gloriosa.

2. Demais. ─ O Evangelho diz, que aparecerá o sinal do Filho do homem no céu, i. é, o sinal da cruz. E Crisóstomo diz: Cristo virá ao juízo com sinais ostensivos não só das feridas cicatrizadas mas também da sua morte ignominiosíssima. Logo, parece que não aparecerá em forma gloriosa.

3. Demais. ─ Cristo aparecerá no juízo em forma que possa ser visto por todos. Ora, sob a forma da sua humanidade gloriosa Cristo não poderá ser visto por todos, bons e maus; porque os olhos não glorificados não são proporcionados à vista da claridade de um corpo glorioso. Logo, não aparecerá sob forma gloriosa.

4. Demais. ─ O prometido como prêmio aos justos não será concedido aos iníquos. Ora, contemplar a glória da humanidade e o prêmio prometido aos justos pelo Evangelho, quando diz: Ele entrará e sairá e achará pastagens, i. é, alimento na divindade e na humanidade, como o expõe Agostinho. E outro lugar da Escritura diz: Verão o rei no seu esplendor. Logo, no juízo não aparecerá a todos sob forma gloriosa.
 
5: Demais. ─ Cristo julgará naquela forma com que foi julgado. Por isso, aquilo do Evangelho ─ Dá o Filho vida àqueles que quer, diz a a Glosa: Na forma em que foi injustamente julgado, nessa mesma julgará, de modo a poder ser visto dos ímpios. Ora, foi julgado numa forma de humilhado. Logo, nessa mesma comparecerá ao juízo.
 
Mas, em contrário, o Evangelho: Então verão o Filho do homem, que virá sobre uma nuvem com grande poder e majestade. Ora, a majestade e o poder são atributos da glória. Logo, aparecerá em forma gloriosa.

2. Demais. ─ Quem julga deve estar numa posição superior a quem é julgado. Ora, os eleitos, que serão julgados por Cristo, terão corpos gloriosos. Logo e com maior razão, o juiz aparecerá em forma gloriosa.

3. Demais. ─ Assim como ser julgado implica uma situação de humilhação, assim julgar supõe a autoridade e a glória. Ora, no seu primeiro advento, quando Cristo para ser julgado, apareceu em figura de humilhado. Logo, no segundo advento, quando vier julgar, aparecerá em forma gloriosa.

SOLUÇÃO. ─ Cristo é chamado pelo Apóstolo o mediador entre Deus e os homens, por ter satisfeito por eles e por eles interceder perante o Pai; e comunica aos homens o que é próprio do Pai, segundo ele próprio o disse: Eu lhes dei a glória que tu me havias dado. E esse título de mediador lhe cabe pelos dois modos com que comunica com ambos os extremos. Pois, enquanto comunica com os homens, desempenha-lhes o papel perante o Pai; e enquanto comunica com o Pai distribui-lhe os dons aos homens. Ora, como no primeiro advento teve por fim satisfazer por nós perante o Pai, por isso revestiu-se da forma da nossa miséria. E como no segundo advento terá por alvo executar sobre os homens a justiça do Pai, deverá manifestar a sua glória que lhe cabe em comum com o Pai. Portanto, aparecerá em forma gloriosa.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Aparecerá Cristo com a mesma carne, mas não no mesmo estado.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O sinal da cruz aparecerá no juízo, para mostra da humilhação passada, que nele não mais se verá. Para assim aparecer em toda a sua justiça a condenação dos que desprezaram tão grande misericórdia e a dos que sobretudo perseguiram a Cristo injustamente. Quanto às cicatrizes que lhe deixará ver o corpo não implicarão nenhum estado de miséria, mas serão os sinais do soberano poder com que Cristo, pela paixão e pelo abatimento, triunfou de seus inimigos. Manifestará também uma ignominiosíssima morte, não fazendo-a aparecer sensivelmente aos olhares, como se então a estivesse padecendo, mas despertando nos homens a lembrança da sua morte passada pelos sinais que fará aparecerem da sua pretérita paixão.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O corpo glorioso tem o poder de deixar-se ver ou não a olhos não glorificados, como se colhe do que foi dito. Por onde, sob forma gloriosa Cristo poderá ser visto de todos.

RESPOSTA À QUARTA. ─ Assim como a glória de um amigo nos causa prazer, assim a glória e o poder de quem odiamos nos faz imensamente sofrer. Por onde, assim como a contemplação da gloriosa humanidade de Cristo será um prêmio para os justos, assim há de ser um suplício para os inimigos de Cristo. Por isso a Escritura diz: Vejam e sejam contundidos os que tem inveja do teu povo; e devore o fogo, i. é, da inveja, aos teus inimigos.

RESPOSTA À QUINTA. ─ Forma, no lugar citado, é tomada no sentido de natureza humana, sob cuja forma foi julgado e também virá julgar; não porém pela qualidade da natureza, que não será a mesma ─ a de humilhada ─ com que foi julgado.

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