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Art. 2 ─ Se a ressurreição será de todos em geral.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que a ressurreição não será de todos geralmente.

1. - Pois, a Escritura diz: os ímpios não ressurgirão no juízo. Ora, a ressurreição da carne será no juízo universal. Logo os ímpios de nenhum modo ressurgirão.

2. Demais. ─ A Escritura diz: Toda esta multidão, dos que dormem no pó da terra, acordarão. Ora, este modo de falar supõe uma particularização. Logo nem todos ressurgirão.

3. Demais. ─ Pela ressurreição os homens se assemelharão a Cristo ressurrecto. Daí conclui o Apóstolo, que se Cristo ressurgiu também nós ressurgiremos. Ora, só aqueles devem assemelhar-se a Cristo ressurrecto, que lhe trouxeram a imagem, na expressão do Apóstolo. E isso se dá só com os bons. Logo, também só eles ressurgirão.

4. Demais. ─ A pena só é perdoada quando delida a culpa. Ora, a morte do corpo é a pena do pecado original. Logo, como nem a todos o pecado original é perdoado, nem todos ressurgirão.

5. Demais. ─ Assim como renascemos pela graça de Cristo, assim pela sua graça ressurgiremos. Ora, os mortos no ventre materno nunca poderão renascer. Logo, nem ressurgir. E assim, nem todos ressurgirão.

Mas, em contrário, o Evangelho: Todos os que se acham no sepulcro ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Logo, todos os mortos ressurgirão. Além disso, diz ainda o Apóstolo: Todos certamente ressuscitaremos, etc.

2. Demais. ─ A ressurreição é necessária a fim de os ressurrectos receberem a pena ou o prêmio, conforme os seus méritos. Ora, a todos é devida uma pena ou um prêmio ─ ou por mérito próprio, como no caso dos adultos; ou pelo mérito alheio, como no caso das crianças. Logo, todos ressurgirão.

SOLUÇÃO. ─ O que se funda em a natureza específica há de necessária e semelhantemente existir em todos os seres da mesma espécie. Ora, tal é a ressurreição. A sua razão de ser, como dissemos, é que a alma, separada do corpo, não pode atingir a perfeição última da espécie humana. Logo, é forçoso todos ressurgirem e não um só.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ O lugar citado se refere à ressurreição espiritual, de que os ímpios não participarão no dia do julgamento das consciências, como expõe a Glosa. ─ Ou se refere aos ímpios totalmente infiéis, que não ressurgirão para serem julgados, por já estarem julgados.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Agostinho expõe que, no lugar citado, multidão significa todos. Modo de falar de que mui frequentemente usa a Escritura Sagrada. ─ Ou a particularização pode entender-se, das crianças condenadas no limbo, que, embora ressurjam, delas não se pode dizer propriamente que estão acordadas; pois, nem sofrerão nenhuma pena e nem alcançarão a glória; porque estar acordado é, por assim dizer, ter os sentidos livres.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Todos, tanto os bons como os maus, se assemelham com Cristo, enquanto vivem neste mundo, pelos atributos pertencentes à natureza da espécie; não porém pelo que respeita à graça. Por onde, todos se lhe assemelharão pelo restabelecimento da vida natural: mas só os bons, pela semelhança da glória.

RESPOSTA À QUARTA. ─ A morte é pena do pecado original; e os que nele morreram, pela morte o expiaram. Por onde, não obstante a culpa original, poderão ressurgir da morte; porque a pena do pecado original é, antes, morrer que ser preso da morte.

RESPOSTA À QUINTA. - Renascemos pela graça que Cristo nos dá; mas ressurgimos pela graça que nos fez de assumir a nossa natureza, pois, pela encarnação é que nos assemelhamos com ele pela natureza. Portanto, os mortos no ventre materno, embora não tenham renascido, pelo recebimento da graça, contudo ressurgirão pela conformidade da sua natureza com a de Cristo, que obtiveram desde que alcançaram a perfeição da espécie humana.

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