O terceiro discute-se assim. ─ Parece que as virtudes dos céus não se comoverão quando vier o Senhor.
1. ─ Pois, virtudes do céu não podem chamar-se senão os anjos bem aventurados. Ora, a beatitude é por essência imutável. Logo, não podem mudar.
2. Demais. ─ A causa da admiração é a ignorância, como diz Aristóteles, Ora, como os anjos não tem nenhum temor, não sofrem também nenhuma ignorância; pois, como pergunta Gregório - que não verão os que vêem tudo? Logo, não poderão sofrer a mudança causada pela admiração, como diz o Mestre.
3. Demais. ─ Todos os anjos assistirão ao juízo divino; donde o dizer a Escritura ─ Todos os anjos estarão em pé ao derredor do trono. Ora, Virtudes designam uma ordem especial de anjos. Logo, não se deveria dizer mais desses anjos, que dos outros, que se comoverão.
Mas, em contrário, a Escritura: As colunas do céu temem-lhe o advento. Ora, não devemos entender por essas colunas senão as virtudes dos céus. Logo, as virtudes do céus se abalarão.
2. Demais. ─ A Escritura diz: As estrelas cairão do céu e as virtudes dos céus se comoverão.
SOLUÇÃO. ─ A palavra ─ virtudes ─ aplicada aos anjos, é susceptível de duplo sentido como se lê em Dionísio. Às vezes designa propriamente uma ordem deles, a qual, segundo Dionísio, ocupa a parte média da hierarquia do meio; segundo Gregório, porém, é o lugar supremo da ínfima hierarquia. Noutro sentido, e esse geral, designa todos os espíritos celestes. Ora, em ambas essas acepções pode aplicar-se ao caso vertente. O Mestre toma essa designação no sentido segundo, designativo de todos os anjos. Diz então que se comoverão atônitos com o novo espetáculo, que oferecerá o mundo. Mas também podemos, no caso, tomar a palavra ─ Virtudes ─ como nome de uma ordem angélica. E então diremos que essa ordem se comoverá, antes de tudo, em razão do efeito. Porque a essa ordem segundo Gregório, competirão os milagres que sobretudo se realizarão no fim do mundo. Ou porque, sendo da hierarquia média, segundo Dionísio, não terá limitado o seu poder; por isso o seu ministério se exercerá sobre as causas universais. E assim, o ofício próprio das Virtudes será mover os corpos celestes, causas dos fenômenos, que se dão na natureza inferior. E o próprio nome o significa, pois, por isso é que se chamam virtudes dos céus. Porque então se moverão por cessarem o seu efeito, deixando de continuar a mover os corpos celestes; assim como também os anjos, delegados à guarda dos homens, não mais terão que exercer esse ofício.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Essa mutação em nada lhes faz variar o estado. Mas se refere ou aos efeitos que produzem, rapaz de causar mudança sem sofrerem nenhuma alteração; ou ao novo conhecimento das cousas, que não podiam ter antes, por meio de espécies concriadas. Mas, essa mudança no seu modo de conhecer não lhes tira a beatitude. Por isso diz Agostinho, que Deus move a criatura espiritual através do tempo.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Costumamos admirar o que excede o nosso conhecimento ou a nossa capacidade. E assim, as virtudes dos céus admirarão o poder divino, antes de obras tais, que não podem imitar e que lhes ultrapassa a compreensão. Nesse sentido diz S. Inês, que o sol e a lua lhe admiram a beleza. Por onde, a admiração não implica no anjo nenhuma ignorância, mas apenas mostra que não têem a compreensão de Deus.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ A solução resulta do que foi dito.