O segundo discute-se assim. ─ Parece que no tempo do juízo o sol e a lua. realmente se escurecerão.
1. ─ Pois diz Rábão: Nada nos impede pensar, que nesse tempo o sol, a lua e os demais astros ficarão verdadeiramente privados da sua luz, como sabemos que se deu com o sol no tempo da paixão do Senhor.
2. Demais. ─ A luz dos corpos celestes se ordena à geração dos corpos inferiores; pois, como explica Averróes, por meio dela, e não só pelo movimento, é que influem nos corpos terrestres. Ora, no tempo do juízo cessará a geração. Logo, os corpos celestes ficarão privados da sua luz.
3. Demais. ─ Os corpos inferiores serão privados; como certos pensam, das qualidades pelas quais agem. Ora, os corpos celestes agem não só pelo movimento, mas também pela luz, como se disse. Logo, assim como o movimento do céu cessará, assim também a luz dos corpos celestes.
Mas, em contrário, segundo os astrólogos, sol e lua não podem se eclipsar simultaneamente. Ora, a Escritura diz que, na vinda do Senhor, esses dois astros se eclipsarão simultaneamente. Logo, esse obscurecimento não será real, como no caso de um eclipse natural.
2. Demais. ─ O aumento e a diminuição de um ser não podem ter a mesma causa. Ora, na vinda do Senhor, a luz dos astros a Escritura a promete aumentada, quando diz: A luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol será sete vezes maior. Logo, não há inconveniente em que a luz desses corpos se escureça, quando vier o Senhor.
SOLUÇÃO. ─ Se nos referimos ao momento mesmo da vinda de Cristo, não é crível que o sol e a lua se escurecerão, privados da sua luz. Porque quando Cristo vier e os mortos ressurgirem, todo o mundo será renovado, como dissemos. Mas nos tempos próximos do juízo, bem poderá ser que o sol, a lua e os demais astros do céu fiquem privados da sua luz, quer em momentos diversos, quer simultaneamente, por assim o determinar o poder divino, a fim de a terrorizar os homens.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA 0BJEÇÃO. ─ Rábão se refere aos tempos precedentes ao juízo.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Os corpos celestes tem luz, não só para causarem a geração nos seres inferiores terrestres, mas também para perfeição e esplendor deles. Por onde, longe de se lhes apagar, por ter cessado a geração no nosso mundo, a luz dos corpos celestes aumentará.
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Rábão se refere aos tempos precedentes ao Juízo.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Não parece provável que os elementos percam as suas qualidades elementares, embora certos autores tinham assim pensado. Se contudo as perdessem não se daria com elas o mesmo que com a luz. Porque as qualidades elementares são contrárias umas às outras e por isso tem um efeito destrutivo; ao passo que a luz é um princípio ativo, não por via de contrariedade, mas como regulador dos contrários, reduzindo-os à unidade. ─ Nem há símil com o movimento dos corpos celestes. Pois, o movimento é o ato do imperfeito. Por isso deve desaparecer, desde que desapareça a imperfeição. O que não se pode dizer da luz.