O segundo discute-se assim. ─ Parece que a extrema unção não é um só sacramento.
1. ─ Pois, a unidade de um ser lhe advém da forma, porque pelo mesmo princípio tem ele o ser e a unidade. Ora, a forma deste sacramento se reitera requentemente, ainda no decurso de um mesmo ato; e também a matéria, que é aplicada em diversas partes do corpo do ungido. Logo, não é um sacramento único.
2. Demais. ─ A unção mesma é que é um sacramento, pois, seria ridículo dizer que o óleo é um sacramento. Ora, são várias as funções. Logo, são vários os sacramentos.
3. Demais. ─ Um sacramento deve ser conferido por um ministro. Ora, em certos casos a extrema unção não pode ser conferida por um ministro; assim, se depois de feita a primeira unção, o sacerdote morrer, pois então outro sacerdote é quem deverá continuar. Logo, a extrema unção não é um só sacramento.
Mas, em contrário. ─ A imersão está para o batismo, como a unção para este sacramento. Ora, várias imersões constituem um só sacramento do batismo. Logo, as várias unções da extrema unção são um só sacramento.
2. Demais. ─ Se não fosse um só sacramento, então, feita a primeira unção, não seria necessário à perfeição do sacramento fazer a segunda; porque todo sacramento por si só existe perfeitamente. Ora, isto é falso. Logo, é um só sacramento.
SOLUÇÃO. ─ A ser uno numericamente, em si mesma considerado, é susceptível de tríplice aspecto. Ou é indivisível, como o ponto e a unidade, por não ter pluridade nem atual nem potencial; ou é contínuo, como a linha, dotada de unidade atual e de pluralidade potencial, ou, terceiro, é um ser perfeito constituído de partes várias; assim, uma casa, multipla de certo modo, mesmo atualmente, mas cuja multiplicidade se reduz a uma certa unidade. E neste sentido qualquer sacramento é considerado uno, enquanto a multiplicidade nele existente se aduna, para significar ou causar uma mesma coisa, pois, o sacramento, significando causa. Por onde, quando uma ação basta a ter uma significação perfeita, a unidade do sacramento consiste nessa ação única, como se dá com a confirmação. Quando porém a significação do sacramento pode estar em uma só ou em múltiplas ações, então o sacramento pode consumar-se por uma só ou por várias ações; assim, o batismo, por uma só imersão e por três, pois, a ablução, significada por ele, pode se fazer por uma só imersão ou por muitas. Quando porém a Significação perfeita não pode ser senão mediante várias ações, então estas são necessárias à perfeição do sacramento; tal o que se dá com a Eucaristia, pois, a nutrição corporal, que significa a espiritual, não pode ser senão mediante a comida e a bebida. O mesmo se dá com este sacramento; pois, a cura das chagas internas não pode ser perfeitamente significa da senão pela aplicação do remédio às diversas regiões doentes. Por onde, a perfeição deste sacramento implica várias ações.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A unidade de um todo perfeito não fica eliminada pela diversidade de matéria ou da forma existente nas partes do todo. Assim, a carne e os ossos, constitutivos de um homem, não são a mesma coisa, nem tem a mesma forma. Semelhantemente, no sacramento da Eucaristia e neste sacramento, a pluridade da matéria e da forma não lhes elimina a unidade.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora essas ações sejam várias, absolutamente falando, contudo são unidas numa ação perfeita, que é a unção de todos os sentidos externos, por onde haurimos doença exterior.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Na Eucaristia, se depois da consagração do pão morrer o sacerdote, outro sacerdote pode passar à consagração do vinho, começando onde o primeiro parou, ou então recomeçar o sacrifício com outra matéria. Mas na extrema unção não pode recomeçar desde o princípio, devendo sempre continuar, porque uma unção feita numa mesma parte tanto vale como se fosse duas vezes consagrada a mesma hóstia ─o que de nenhum modo se deve fazer. Nem contudo a pluralidade de ministros tira a unidade a este sacramento, pois operam só como instrumentos; assim, a mudança dos martelos não priva da sua unidade a operação fabril.