O segundo discute-se assim. — Parece que Cristo não tinha o poder das chaves.
1. — Pois, o poder das chaves resulta do caráter da ordem. Ora, Cristo não tinha esse caráter. Logo, não tinha o poder das chaves.
2. Demais. — Cristo tinha nos sacramentos o poder de excelência, de modo que podia conferir o efeito deles sem os sacramentos. Ora, as chaves são um sacramental. Logo, não precisava delas. E assim, teria inutilmente esse poder.
Mas, em contrário, a Escritura: Isto diz o que tem a chave de David, etc.
SOLUÇÃO. — O poder de agir reside ao mesmo tempo no instrumento e no agente principal; mas não do mesmo modo, porque no agente principal reside mais perfeitamente. Ora, o poder das chaves, que nós temos, assim como o de conferir os outros sacramentos é um poder instrumental. Mas Cristo o tem como o agente principal da nossa salvação; pela sua autoridade, como Deus; e pelo seu mérito, como homem. Ora, a chave, por sua natureza, exprime o poder de abrir e de fechar, quer quem abra o faça como agente principal, quer como ministro. Por onde. Cristo deve ter o poder das chaves; mas de modo mais elevado pelo qual o tem os seus ministros. Por isso se diz que tem a chave da excelência.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O caráter, por natureza, significa uma impressão recebida de outrem. Por isso o poder das chaves, que nós recebemos de Cristo, resulta do caráter com que com Cristo nos conformamos. Ora, Cristo tem o referido poder não em virtude do caráter, mas como agente principal.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Essa chave que Cristo tinha não era sacramental, mas princípio da chave sacramental.