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Art. 2 ─ Se é necessário a confissão ser íntegra.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que não é necessário a confissão ser íntegra, de modo que se confessassem todos os pecados a um só sacerdote.
 
1. ─ Pois, a vergonha contribui para a diminuição da pena. Ora, quanto maior o número dos sacerdotes a que nos confessemos tanto maior será a vergonha sofrida. Logo, será mais frutuosa a confissão quando feita a vários sacerdotes.
 
2. Demais. ─ A confissão é necessária na penitência a fim de a pena ser aplicada ao pecador segundo o arbítrio do sacerdote. ─ Ora, diversos sacerdotes podem impor uma pena suficiente a pecados diversos. Logo, não é necessário confessar todos os pecados a um só sacerdote.
 
3. Demais. ─ Pode acontecer que, depois da confissão feita e da satisfação completa, recordemo-nos de algum pecado mortal que a memória não teve presente, enquanto confessávamos; e que então não tenhamos o ensejo de tornar a encontrar o sacerdote próprio, a quem confessamos antes. Logo, só poderemos confessar esse pecado a outro. E então seriam pecados diversos confessados a sacerdotes diversos.
 
4. Demais. ─ Ao sacerdote não devemos fazer confissão dos pecados senão em vista da absolvição. Ora, às vezes o sacerdote, que ouve a confissão, pode absolver certos pecados, mas não todos. Logo, pelo menos em tal caso não é preciso a confissão ser íntegra.
 
Mas, em contrário. ─ A hipocrisia é impedimento à penitência. Ora, fazer por partes a confissão constitui hipocrisia, como diz Agostinho. Logo, a confissão deve ser íntegra.
 
2. Demais. ─ A confissão faz parte da penitência. Ora, a penitência deve ser íntegra. Logo, também a confissão.
 
SOLUÇÃO. ─ Na medicina corporal é necessário que o médico conheça não somente e a doença para a qual deve dar remédio, mas ainda a disposição total do enfermo. Porque uma doença se agrava com a sobrevivência de outra e o remédio, que curaria daquela, poderá ser contraproducente em relação a esta. E o mesmo se dá com os pecados: um se agrava com a sobrevivência de outro e o que para um seria o remédio conveniente poderia ser incentivo para o outro, pois, às vezes pode alguém estar contaminado de pecados contrários, como o ensina Gregório. Por onde, a confissão exige necessàriamente confessemos todos os pecados que temos na memória; não o fazendo, não haverá confissão, mas simulação dela.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Embora se multiplique o pejo quando se confessem pecados diversos a sacerdotes diversos, contudo esse pejo multiplicado não é de tanta intensidade de como o pejo único com que confessamos simultaneamente todos os nossos pecados. Por que cada pecado considerado de per si não mostra má disposição do pecador, igual a que revela quando considerado juntamente com os outros. Pois, num pecado só às vezes caímos por ignorância ou fraqueza; ao passo que a multidão dos pecados revela a malícia do pecador, ou a sua grande corrupção.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A pena imposta por diversos sacerdotes não seria suficiente; porque cada um consideraria o pecado confessado só em si mesmo, sem a gravidade que ele recebe pela adjunção de outro; e às vezes a pena aplicada a um viria a promover outro. ─ E além disso, o sacerdote ao ouvir a confissão faz às vezes de Deus. E por isso a confissão lhe deve ser feita do mesmo modo por que o é a Deus pela contrição. Por onde, assim como a contrição não existiria senão extensiva a todos os pecados, também confissão não haveria sem se confessarem todos os pecados ocorrentes à memória.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Certos dizem que quando nos recordamos do que tínhamos esquecido, devemos de novo confessar, mesmo o que já tínhamos confessado; e sobretudo se não pudermos nos confessar de novo ao mesmo sacerdote de antes que nos conhecia todos os pecados, de modo que o mesmo sacerdote seria então o que nos conhecesse totalmente a gravidade da culpa. ─ Mas isto não é necessário. Porque o pecado tira de si mesmo a sua gravidade e da sua adjunção com outro. Ora, aos pecados que confessamos manifestamos a gravidade, que em si mesmos tinham. Mas para o sacerdote conhecer a gravidade, sob o duplo aspecto referido, do pecado cuja confissão nos esquecemos, basta revelá-lo explicitamente ao nos confessar de novo, falando dos outros em geral, dizendo que, tendo confessado muitos outros, desse nos esquecemos.
 
RESPOSTA À QUARTA. ─ Embora o sacerdote não possa absolver de todos os pecados, contudo o penitente está obrigado a lhe confessar todos, a fim de ele conhecer a gravidade total da culpa; e aqueles que não pode absolver remeta ao superior.

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