O primeiro discute-se assim. ─ Parece que não é necessário confessar a um sacerdote.
1. ─ Pois, a confessar não estamos obrigados senão por instituição divina. Ora, a instituição divina nos é proposta na Escritura: Confessai os vossos pecados uns aos outros, onde não se faz menção do sacerdote. Logo, não devemos confessar ao sacerdote.
2. Demais. ─ A penitência é um sacramento de necessidade para a salvação, como o batismo. Ora, no batismo, por necessidade do sacramento, qualquer homem é ministro. Logo, também na penitência. Portanto, basta confessar a qualquer.
3. Demais. ─ A confissão é necessária a fim de ser imposto ao penitente o modo da satisfação. Ora, às vezes quem não é sacerdote poderia com mais discernimento do que muitos sacerdotes, dar ao penitente o modo de satisfazer. Logo, não é necessário fazer a confissão ao sacerdote.
4. Demais. ─ A confissão foi estabelecida na Igreja para os chefes conhecerem de vista o seu rebanho. Ora, às vezes o chefe prelado não é sacerdote. Logo, a confissão nem sempre deve ser feita ao sacerdote.
Mas, em contrário. ─ A absolvição do penitente, para a qual é feita a confissão, só podem dá-la os sacerdotes a quem foi cometido o poder das chaves. Logo, a confissão deve ser feita ao sacerdote.
2. Demais. ─ A confissão foi prefigurada na ressurreição de Lázaro morto. Ora, o Senhor só aos discípulos mandou que desligassem a Lázaro, como o refere o Evangelho. Logo, aos sacerdotes deve ser feita a confissão.
SOLUÇÃO. ─ A graça dada nos sacramentos desce da cabeça para os membros. E por isso só aquele é ministro dos sacramentos ─ pelos quais é dada a graça ─ que tem o ministério sobre o verdadeiro corpo de Cristo. O que é próprio só do sacerdote, que pode consagrar a Eucaristia. E portanto, como no sacramento da penitência é conferida a graça, só o sacerdote é ministro deste sacramento. Por onde, só a ele se deve fazer a confissão sacramental, que deve ser feita a um ministro da Igreja.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Tiago se exprime na pressuposição da instituição divina. Pois, por ter precedido a instituição divina sobre a confissão a ser feita aos sacerdotes, por lhes ter sido dado nos Apóstolos, o poder de perdoar os pecados ─ como lemos na Escritura, por isso devemos entender que Tiago advertiu os fiéis a fazerem a confissão aos sacerdotes.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O batismo é sacramento de mais necessidade para a salvação do que a penitência, quanto à confissão e a absolvição. Porque às vezes o batismo não pode ser preterido sem perigo para a salvação eterna, como se da com as crianças, que não têm o uso da razão. O mesmo porém não se passa com a confissão e a absolvição, de que só os adultos são capazes, e para os quais a contrição com o propósito de confessar e o desejo da absolvição bastam para livrar da morte eterna. E portanto não há símile entre o batismo e a confissão.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Na satisfação não devemos atender só à intensidade da pena, mas também à virtude dela como parte do sacramento. E assim exige um dispensador dos sacramentos; embora: a intensidade da pena também possa ser determinada por outrem que não um sacerdote.
RESPOSTA À QUARTA. ─ Conhecer as ovelhas de vista pode ser necessário de dois modos. ─ Primeiro, para dar a cada um o seu lugar no rebanho de Cristo. E assim, conhecer de vista as ovelhas é o objeto do cuidado e da solicitude pastoral, que às vezes incumbe aos não sacerdotes. ─ Segundo, para que se lhe dê o remédio conveniente à salvação. E então, conhecer as ovelhas de vista é dever daquele que deve ministrar o remédio à salvação, isto é, sacramento da Eucaristia e outros, isto é, do sacerdote. Ora, a esse conhecimento das ovelhas é que se ordena a confissão.