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Art. 2 ─ Se devemos ter dor incessante do pecado.

O segundo discute-se assim. - Parece que não devemos ter dor incessante do pecado.
 
1. Pois, devemos às vezes nos alegrar; assim, àquilo do Apóstolo - Alegrai-vos incessantemente no Senhor, diz a Glosa, que é necessário nos alegrarmos. Ora, não podemos ter ao mesmo tempo alegria e dor. Logo, não é mister tenhamos dor incessante do pecado.
 
2. Demais. O que é em si mesmo mal e deve ser evitado não o devemos praticar, senão sendo necessário como remédio: tal o caso do emprego do fogo e do ferro na arte de curar. Ora, a tristeza é em si mesma um mal, segundo aquilo da Escritura: Afugenta para longe de ti a tristeza. E acrescenta a causa: Porque a tristeza tem morto a muitos e não há utilidade nela. E o mesmo diz Filósofo expressamente. Logo, não devemos ter dor do pecado senão a suficiente para o deliro Ora, logo depois do primeiro ato de contrição o pecado fica delido. Portanto não é preciso ter mais dor dele.
 
3. Demais. ­ Bernardo diz: A dor é boa, não sendo incessante; pois, devemos misturar o mel com o absinto. Logo, parece que não é preciso termos dor incessante.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: Tenha sempre dor o penitente e com isso se regozige.
 
2. Demais. Os atos constitutivos da beatitude devemos praticá-los incessantemente, tanto quanto possível. Ora, tal é a dor do pecado, como está claro no Evangelho: Bem-aventurados os que choram. Logo, devemos ter uma dor continuada, tanto quanto possível.
 
SOLUÇÃO. Os atos de virtude implicam tal condição, que não são susceptíveis de aumento nem de diminuição, como o prova o Filósofo. Por onde, sendo a contrição, pela displicência que ela implica no apetite racional, ato da virtude de penitência, não poderá nunca haver nela aumento, nem quanto à intensidade nem quanto à duração; senão enquanto o ato de uma virtude impede o ato de outra, mais necessário num determinado tempo. Por isso, se pudermos manter incessantemente o ato dessa displicência, é melhor; contanto que vaquemos aos atos das outras virtudes, oportunamente e segundo for necessário. - As paixões, ao contrário, são susceptíveis de aumento e de diminuição, quanto à sua intensidade e quanto à sua duração. Por onde, assim como a paixão da dor, assumida pela vontade, deve ser moderadamente intensa, assim também deve durar moderadamente; pois, durando em excesso, levar-nos-ia à alma o desespero, a pusilanimidade e misérias semelhantes.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. A alegria do século fica impedida pela dor da contrição; mas não a alegria que tem Deus por objeto, pois tem como sua matéria a própria dor.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. O Eclesiástico se refere à tristeza do século. E o Filósofo, à tristeza como paixão, da qual devemos usar moderadamente enquanto conduz ao fim assumido.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. Bernardo se refere à dor como paixão.

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