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Art. 7 — Se a ciência de Deus é discursiva.

(Infra, q. 85, a. 5; I Cont. Gent., cap. LV, LVII; De Verit., q. 2, a. 1, ad 4, 5; a. 3, ad 3; a. 13; Compend. Theol., cap. XXIX; in Iob., cap. XII, lect. II).
 
O sétimo discute-se assim. — Parece que a ciência de Deus é discursiva.
 
1 — Pois, a ciência de Deus não é habitual, mas, um conhecimento atual. Ora, segundo o Filósofo1, podemos saber habitualmente muitas coisas ao mesmo tempo; mas conhecer em ato, uma de cada vez. Logo, como Deus conhece muitas coisas, pois que se conhece a si mesmo e a seres diferentes de si, segundo se demonstrou2, resulta que não conhece a todas simultaneamente, mas discorre de uma para outra.
 
2. Demais. — Conhecer os efeitos pela causa é ciência discursiva. Ora, Deus conhece os outros seres por si mesmo, como o efeito, pela causa. Logo, o seu conhecimento é discursivo.
 
3. Demais. — Deus conhece cada criatura mais perfeitamente do que nós. Ora, nós, pelas causas criadas lhes conhecemos os efeitos, e assim, discorremos das causas para os causados. Logo, o mesmo se dá com Deus.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: Deus não vê tudo particular ou separadamente como por um conceito, alternando, daqui para ali e dali para aqui; mas, vê todas as coisas simultâneamente3.
 
SOLUÇÃO. — Na ciência divina não há nenhum discurso, o que assim se demonstra. Na ciência humana há duplo discorrer: um sucessivo, como quando, depois de conhecermos alguma coisa em ato; passamos a conhecer outra coisa. Outro, causal, quando, pelos princípios, chegamos ao conhecimento das conclusões. — Ora, o primeiro modo de discorrer não pode convir a Deus. Pois, se considerarmos, de per si, muitas das coisas que conhecemos sucessivamente, conheceremos a todas simultaneamente se as conhecermos numa terceira; p. ex. se conhecemos as partes no todo, ou se vemos no espelho diversas coisas. Ora, Deus vê todas as coisas num só Ser, que é ele próprio, como já se demonstrou4. Logo, as vê todas simultânea e não, sucessivamente. Também o segundo modo de discorrer não pode convir a Deus. Primeiro, porque este segundo modo pressupõe o primeiro; pois, os que procedem dos princípios para as conclusões não consideram a ambos simultaneamente. Em segundo lugar, porque tal modo é o de quem procede do conhecido para o desconhecido. Donde é manifesto, que quando o primeiro é conhecido, ainda o segundo é ignorado, e, assim, o segundo não é conhecido no primeiro, mas pelo primeiro. E o termo do discurso é quando o segundo é visto no primeiro, resolvidos os efeitos nas causas, cessando, então, o discurso. Logo, Deus, vendo os seus efeitos em si mesmo, como na causa, o seu conhecimento não é discursivo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Embora conhecer seja, em si mesmo, um ato único, contudo, podemos conhecer muitas coisas numa só, como dissemos5.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Deus não conhece efeitos desconhecidos pela causa como que primeiramente conhecida; mas os conhece na causa. Logo, o seu conhecimento não é discursivo, como dissemos6.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Certamente Deus, muito melhor que nós, vê os efeitos das coisas criadas, nas próprias causas; não, porém, que o conhecimento dos efeitos nele seja causado pelo conhecimento das coisas criadas, como em nós. Logo, a sua ciência não é discursiva.
  1. 1. Topic., lib. II, cap. X.
  2. 2. Q. 14, a. 2, 5.
  3. 3. De Trin., lib. XV, cap. XIV.
  4. 4. Q. 14, a. 5.
  5. 5. In corp.; cf. I, q. 85, a. 4.
  6. 6. Ibid.
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