Medito em todas as tuas obras (Ps 142, 5).
I. — As coisas que são de Deus são, por si mesmo, as que mais excitam o amor e, por conseguinte, a devoção, pois Deus deve-se ser amado sempre acima de tudo; mas, pela fraqueza do espírito humano, assim como carecemos de algo que nos guie ao conhecimento das coisas divinas, assim também, para amá-las precisamos ser conduzidos pelo conhecimento de algo sensível. Entre o quê conta-se precipuamente a humanidade de Cristo, conforme se diz no Prefácio: para que, conhecendo a Deus visivelmente, sejamos por Ele arrebatados ao amor invisível. Assim, tudo o que pertence à humanidade de Cristo, como que nos guiando pela mão, excita devoção máxima e, freqüentemente, maior devoção surge pela consideração da Paixão de Cristo e de outros mistérios da sua humanidade do que pela consideração da divina imensidade; embora a devoção consista principalmente nos mistérios divinos.
(IIa IIae, q. 82, a. 3 ad 2)
II. — Cristo dizia aos Apóstolos após o lava-pés: Compreendeis o que vos fiz? Como se dissesse: vistes o que vos foi feito, contudo porque o fizesse, não compreendeis. Por isso o pergunta, para que demonstre a grandeza do que foi feito e os induza à meditação.
As obras de Deus devem ser meditadas porque profundas. Quão magníficas são, Senhor, as tuas obras! Quão profundos são os teus pensamentos!. Sl 91, 6. Mal podemos conhecer as obras de Deus suficientemente, conforme a Escritura: o homem não pode descobrir as obras que se fazem debaixo do sol. Ecle 8, 17.
Sua meditação é agradável. Em realidade me alegras, Senhor, com as tuas obras. Sl 91, 5.
São também úteis, pois levam ao conhecimento do seu autor. As obras que meu Pai me deu que cumprisse, estas mesmas obras que eu faço, dão testemunho de mim. Jo 5, 36.
(In Joan., XIII)
III. — Se alguém considerar com piedade a conveniência da Paixão e Morte de Cristo, encontrará tanta profundidade de sabedoria, que sempre lhe ocorrerá algo a mais e maior para meditar; conhecerá por experiência a verdade do que diz o Apóstolo: Nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que são chamados, quer dos judeus, quer dos gregos, é Cristo virtude de Deus e sabedoria de Deu. 1 Cor 23-24. E mais adiante: porque o que é loucura em Deus, é mais sábio que os homens. 1 Cor 25.
(Contra Saracen.)
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)